quinta-feira, 25 de junho de 2015

Índios: povos que devemos valorizar





História e culturas indígenas



 Como bem sabemos antes dos europeus chegarem com suas caravelas habitavam este território chamado, atualmente, de Brasil diversos povos indígenas. Estima-se que quando Pedro Alvares Cabral desembarca com sua frota havia entre 3 e 5 milhões de índios e mais de 1000 línguas diferentes faladas pelos nativos, bem como algo em torno de 1500 povos. Como bem sabemos o termo “índio” foi dado pelos europeus e fruto de um erro geográfico, ou seja, quando Colombo chega em 1492 neste continente acredita que está nas Índias e chama os habitantes de “índios”.
Ao longo da história do Brasil percebemos o quanto os povos indígenas foram maltratados, dizimados e explorados fruto de um processo de colonização cruel implantado pelo colonizador (europeu). Para tanto se utilizaram de diversas justificativas como o “índio” é selvagem, canibal, sem cultura, preguiçoso, sem natureza humana, sem alma e sem civilização. O europeu colocou-se numa posição de superioridade, como se existisse cultura superior a outra. Bem sabemos que não existe cultura superior, mas culturas diferentes.
Infelizmente essa ideia dos índios serem inferiores chegou até nós. É comum ouvirmos diversas ideias preconceituosas e que levam à discriminação dos povos indígenas em nossa sociedade ( na família, escola, livros, meios de comunicação). Tudo isso fruto de um total desconhecimento e ignorância por parte de cada um de nós. No entanto, depois de muita luta do movimento indígena em 2008 foi sancionada a lei 11645 que obriga nos currículos escolares a implantação do ensino da História e culturas indígenas preferencialmente nas disciplinas de História, Literatura e Educação artística na tentativa de acabar com tanto preconceito contra esses povos.
Portanto, cabe-nos a seguinte pergunta: o que aconteceu para a dizimação dos povos nativos? É isso que tentaremos responder.
Atualmente, segundo dados do último censo do IBGE em 2010 são cerca de 900 mil índios distribuídos em 220 etnias que falam 180 línguas diferentes. Isso nos mostra a grande diversidade cultural desses povos e ao contrário do que muitas pessoas imaginam os nativos estão aumentando.

A diversidade cultural                           

 


Nessas poucas imagens já podemos observar que ao contrário do que se pensa ou o que foi ensinado na escola os povos indígenas não são todos iguais: não se vestem do mesmo jeito, não possuem as mesmas crenças, não pensam da mesma forma, não fazem da mesma maneira suas casas, não falam a mesma língua. Será que todos os índios chamam suas casas de oka como nos ensinaram?
Meu querido sei que você é inteligente e já percebeu que os índios são bem diferentes uns dos outros! Surpresa! Muito legal essa descoberta que fizemos! E agora? É hora de acabarmos com o preconceito e a discriminação que sofrem esses povos! Vai ficar de braços cruzados? Ou vai fazer alguma coisa? Com certeza você já ouviu ou vai ouvir algum tipo de preconceito. Agora você vai combater essa ideia de exclusão!
Com certeza você não vai mais cair naquela imagem errada de que índio é andar quase nu, com um monte de pena na cabeça, com o corpo pintado e com arco e flecha. Atualmente muitas culturas indígenas vestem-se como os não-índios, muitos são pesquisadores, intelectuais, escritores, artistas, professores e nem por isso deixaram de ser índios.

Professores indígenas

A nossa atitude de cidadãos conscientes é respeitar aqueles que são diferentes de nós. Infelizmente somos levados a querer nos julgar superiores, melhores ou “civilizados”. Principalmente em relação aos povos indígenas é um dever nosso não exaltá-los, mas respeitá-los. E aí? Você que se julga “civilizado” qual vai ser a sua atitude a partir de agora?



O encontro entre as culturas: indígenas e europeia

Os europeus ao instalarem-se nessas terras perceberam logo que deveriam adaptar-se ao ambiente para sobreviverem. Nisso contaram com a ajuda dos índios que lhes foram muito úteis, pois conheciam as florestas, alimentos, caminhos e rios. Os europeus impressionaram-se com a mandioca que era utilizada pelos nativos na alimentação ( a farinha que tanto consumimos). Logo os colonizadores aprenderam a lidar com o amendoim e a pimenta que foram utilizados na alimentação pelas mulheres europeias. Também incorporaram em sua alimentação o caju, maracujá, abacaxi e banana frutas que os índios utilizavam. O tabaco indígena que era utilizado para curar certas feridas em homens e animais como as “bicheiras” foi utilizado como fumo pelos índios e colonos.
Muitos animais foram utilizados pelos europeus em sua alimentação como: veados, antas, tatus, pacas, cotias, aves.

Aprendendo com os índios e a exploração do trabalho indígena

Graças à colaboração indígena que a colonização obteve sucesso, pois inicialmente os europeus não conheciam as terras e foram os índios com seus conhecimentos da natureza que os ajudaram. Foi com eles que os europeus aprenderam a caçar, pescar, andar nos rios e matas brasileiras e a lidar com os animais ferozes e insetos que destruíam as plantações.
Só que os portugueses não queriam apenas viver aqui, mais principalmente explorar a natureza para obter riquezas. Por isso aproveitaram-se dos nativos para explorá-los através do escambo.

Com a implantação das capitanias hereditárias a partir de 1534 a mão de obra indígena foi utilizada com maior intensidade devido a implantação do cultivo de cana de açúcar nos canaviais e engenhos, logo os índios foram escravizados. Ao serem escravizados e levados para os canaviais e engenhos não suportavam o trabalho e fugiam, pois não era da sua cultura trabalharem na agricultura essa tarefa cabia às mulheres( os europeus não perceberam isso) pelo menos os índios do litoral nordestino.
As leis na colônia uma ora permitiam a escravidão indígena outra ora proibia. Até 1680 de maneira geral eram permitidas a escravidão por meio de guerras justas, ou seja, invasão armada em terras indígenas com o objetivo de capturar indígenas. A guerra só podia ser realizada contra aqueles que atacassem os portugueses ou que impedissem a circulação de missionários e a pregação do Evangelho.
Também poderiam ser escravizados por meio do resgate que eram expedições que negociavam com povos aliados em troca de inimigos capturados em guerras inter-tribais.
Outra forma era o resgate dos chamados índios de corda que eram prisioneiros de uma tribo que se encontravam presos e armados e que estavam destinados a serem comidos.
Havia também os descimentos que eram expedições, inicialmente, não militares realizadas tradicionalmente por missionários com o objetivo de persuadir comunidades indígenas para “descer” de suas aldeias para os aldeamentos dos missionários. Nos aldeamentos eram explorados pelos religiosos e convertidos ao cristianismo perdendo a sua cultura. Dessa maneira a partir de 1656 os missionários passaram a controlar a mão de obra indígenas o que gerou conflitos com os colonos que queriam a todo custo escravizá-los para trabalhar na cana de açúcar.
No entanto a partir de 1686 com o regimento das missões que deu poder aos missionários sobre os indígenas a escravidão foi proibida, não que eles não fossem obrigados a trabalhar e que na prática a escravidão acontecia. Porém, isso é conversa para os próximos capítulos da História e no decorrer das séries espero que seus professores trabalhem isso com vocês, mesmo tendo quase que certeza que não falaram disso.
As razões que levaram os portugueses a adotarem com maior intensidade a escravidão africana em vez da indígena: resistência indígena, doenças, o lucrativo tráfico negreiro e a resistência dos religiosos ( principalmente os jesuítas). Isso desmente a ideia preconceituosa de que foi adotada a escravidão africana porque os índios eram preguiçosos.


Resistência indígena

Luta contra o colonizador
                                                   

Meu querido será que os índios não resistiam à dominação? Claro que sim. Através de alianças entre nações indígenas contra os europeus ou em alianças com os portugueses contra os holandeses; saques e invasões aos engenhos, guerras contra os europeus, fugas.
As principais guerras indígenas foram: a confederação dos tamoios, a guerra dos bárbaros, a revolta de Ajuricaba e o conflito dos jesuítas dos trinta povos das missões. Essas guerras ficam de pesquisas para você se aprofundar no tema. O certo é que os nativos lutaram muito por sua liberdade. E você não lutaria? Aceitaria ser escravizado?
Costumes indígenas

Os povos indígenas viviam em aldeias e praticavam a agricultura, caçavam, pescavam, coletavam para sobreviver. Essas aldeias podiam mudar de local em busca de melhores condições de vida, logo entre os nativos havia bastante mobilidade e poucos bens que deveriam ser levados de um lugar para o outro.
Os tupis-guranis cultivavam a mandioca, bem como o milho, feijão e batata-doce. Alguns plantavam abóbora, abacaxi, algodão e tabaco. Aos homens cabia a pesca, caça, o roçado, a produção de canoas; às mulheres cabiam a plantação, colheita, preparo do alimento, fiavam, teciam, faziam cestos e muito mais coisas. Consumiam praticamente tudo o que produziam e quase não possuíam estoque. Diferentemente dos europeus o objetivo do seu trabalho não era acumular bens.
O índio só tinha como propriedade pessoal a sua arma e seus enfeites, o resto era tudo partilhado. Os europeus não entendiam o modo de vida deles e acabaram julgando-os como “preguiçosos”, “rebeldes”, “selvagens”. Será que este estilo de vida não tem muita coisa para nos ensinar? Hoje vivemos numa busca incessante por bens materiais e que não nos garantem a felicidade. Ainda hoje julgamos o modo de vida desses povos como fôssemos superiores. Será que somos?
Um costume indígena que chamava a atenção dos europeus era a nudez. Geralmente seus corpos eram pintados com algum tipo de resina e usavam penas de diversos animais como enfeites. As mulheres não furavam os lábios, usavam braceletes e pintavam os rostos seus enfeites eram mais simples que o dos homens.
Outro costume que surpreendeu os europeus foram os banhos diários e até mais de uma vez dos índios. Nas festas indígenas que duravam dias havia muita bebedeira e era comum conflito entre os nativos.
As mulheres eram consideradas inferiores aos homens e comumente era o seu pai, tio, irmão que lhe arranjava o casamento. Para alguns líderes indígenas era permitida a poligamia e a liberdade sexual.

Ritual Antropofágico

Os índios possuíam espírito de guerreiros e as guerras eram comuns entre tribos rivais. Em nome da vingança conflitos entre grupos indígenas diferentes eram comuns. Observemos como era o ritual antropofágico:
“Levado para a aldeia dos captores, o prisioneiro era amarrado de forma ritual pelo seu dono e percorria a aldeia enquanto todos o ameaçavam e lhe prometiam a morte, até mesmo escolhendo as partes de seu corpo, desejadas para o banquete.
O prisioneiro era muito bem tratado, alimentado, engordado e até podia receber uma esposa temporária. Se por acaso tivessem um filho nesse tempo, a criança seria considerada inimiga e deveria ser morta e comida como o pai. Quando se aproximava a ocasião festiva da execução, eram feitos convites às aldeias vizinhas, enquanto às mulheres preparavam as bebidas.
O índio escolhido para ser o executor do prisioneiro era pintado com cores vivas ou untado com gema de ovo, ml ou resina e coberto com penas coloridas. Na cabeça portavam um cocar de penas. O prisioneiro era enfeitado de forma semelhante, com o rosto pintado de azul ou verde e levado para o lugar do sacrifício, no meio da aldeia e diante de todos. Antes esperava-se que demonstrasse valentia.
Depois era semi-imobilizado, mas ainda podia fazer algumas negaças para evitar o golpe do tacape do executor que finalmente esmagava- lhe o crânio. Nesse momento, uma velha corria com o cabaço na mão para pegar o miolo e não deixar desperdiçar o sangue, pois tudo seria aproveitado no banquete canibal.
O corpo do morto era limpo e chamuscado pelas velhas que depois o entregavam para um velho que o retalhavam, começando por fazer uma abertura no ventre por onde as crianças lhe tiravam as tripas das quais recebiam pedaços. O corpo era depois esquartejado e dividido entre os participantes da festa que recebiam, por vezes, os pedaços previamente escolhidos.
A carne era colocada sobre uma espécie de jirau onde era moqueada, isto é, assada e defumada até ficar no ponto desejado. Depois era consumida. A gordura, os miolos e as tripas eram aproveitados para um mingau destinado às velhas e às crianças.
A cabeça era espetada à porta do executor que também recebia os dentes e as tíbias do morto, mas não a sua carne. Os dentes eram pendurados no colar e as tíbias serviam para fazer flautas”.( MESGRAVIS, Laima; PINSKY, Carla Bassanezi. O BRASIL QUE OS EUROPEU ENCONTRARAM: a flora, a fauna, índios, homens brancos, antropofagia e vida sexual, p. 60-61).
Para os ameríndios esse ritual servia para acalmar o espírito do morto para que não procurasse vingança contra seu matador. O ato devorar o prisioneiro tinha por objetivo declarado vingar os parentes e amigos mortos pelos inimigos e incorporar suas virtudes guerreiras e sua força espiritual.

A contribuição das culturas indígenas na formação do povo brasileiro

Infelizmente as pessoas pensam que os ameríndios não contribuíram em nada na formação da cultura nacional. Grande engano, pois aprendemos com os nativos muitos valores.
Segundo o folclore brasileiro, existia a lenda do curupira (ser habitante das florestas brasileiras), cuja principal atribuição seria proteger animais e plantas. Sempre recorrente nas lendas, o curupira tinha os pés com calcanhares para frente para confundir os caçadores. Conforme o historiador Sérgio Buarque de Holanda, o curupira não existiu, mas os indígenas tinham o hábito de andar para trás, para confundir os europeus e bandeirantes.
A vontade de andar descalço foi outro hábito que herdamos dos indígenas. Geralmente, quando chegamos em casa após um dia inteiro de trabalho ou estudo, a primeira coisa que fazemos é retirar o calçado e ficar certo tempo descalços. Muitas pessoas têm o hábito de sempre andar descalças quando estão em suas casas.
O costume de descansar em redes é outra herança dos povos indígenas. Quase sempre os índios dormem em redes de palha que se encontram dentro de suas habitações nas aldeias.
A culinária brasileira herdou vários hábitos e costumes da cultura indígena, como a utilização da mandioca e seus derivados (farinha de mandioca, beiju, polvilho), o costume de se alimentar com peixes, carne socada no pilão de madeira (conhecida como paçoca) e pratos derivados da caça (como picadinho de jacaré e pato ao tucupi), além do costume de comer frutas (principalmente o cupuaçu, bacuri, graviola, caju, açaí e o buriti).
Além da influência indígena na culinária brasileira, herdamos também a crença nas práticas populares de cura derivadas das plantas. Por isso sempre se recorre ao pó de guaraná, ao boldo, ao óleo de copaíba, à catuaba, à semente de sucupira, entre outros, para curar alguma enfermidade. Quem nunca tomou um chazinho feito por seus avós ou mãe?
A influência cultural indígena na sociedade brasileira não para por aí: a língua portuguesa brasileira também teve influência das línguas indígenas. Várias palavras de origem indígena se encontram em nosso vocabulário cotidiano, como palavras ligadas à flora e à fauna (como abacaxi, caju, mandioca, tatu) e palavras que são utilizadas como nomes próprios (como o parque do Ibirapuera, em São Paulo, que significa, “lugar que já foi mato”, em que “ibira” quer dizer árvore e “puera” tem o sentido de algo que já foi. O rio Tietê em São Paulo também é um nome indígena que significa “rio verdadeiro”). Também o nome de várias cidades como Manaus e Macapá.
Daí a importância de valorizar as culturas indígenas e não mais discriminá-las. Agora é com você!

 Por Professor Bruno Rafael

REFERÊNCIAS

FREIRE, Carlos Augusto da Rocha; OLIVEIRA, João Pacheco de Oliveira. A presença indígena na formação do Brasil. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação continuada, Alfabetização e Diversidade; LACED/ Museu Nacional, 2006.
LUCIANO, Gersem dos Santos. O índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Brasília:MEC, Secretaria de educação continuada, Alfabetização e Diversidade; LACED\ Museu Nacional, 2006.
MESGGRAVIS, Laima; PINSKY, Carla Bassanezi. O Brasil que os europeus encontraram: a natureza, os índios, os homens brancos. São Paulo: Contexto, 2013.

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