segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Holandeses no “Amapá” (século XVII)


Prof. Me. Bruno Rafael Machado Nascimento
       
     

          Os ingleses, irlandeses e holandeses a partir de 1600 no delta amazônico implantaram várias feitorias e fortificações para principalmente comercializarem com as populações indígenas. A região que corresponde ao atual Estado do Amapá era conhecida como “Cabo do Norte” e mesmo antes dos portugueses se estabeleceram as outras nações europeias já realizavam contatos com os povos originários. Levaram da região madeiras, peixes-boi, gomas, urucum, cacau que eram revendidos no mercado europeu, mas com o decorrer do tempo eles resolveram com o apoio do trabalho indígena cultivar tabaco e cana em pequenos assentamentos.
Na região do atual Amapá na primeira metade do século XVII o comércio holandês com os ameríndios foi tão intenso que os europeus criaram uma pequena companhia chamada de Guiaansche Compagnie que fretou navios para comercializar na região, principalmente no Suriname. Veja o que afirma o historiador Lodewijk Hulsman (2016, p. 41): “os navios holandeses abasteciam as feitorias dos ingleses e irlandeses na banda ocidental e transportavam para Europa”. Além disso, enchiam seus navios com produtos da Amazônia o que geravam bastantes lucros.
Inicialmente, implantaram feitorias (espécie de armazéns fortificados eram levantadas próxima às moradias dos nativos), pois pagavam para eles construírem casas e limpar as roças), mas depois evoluiu para pequenas plantações de tabaco, algodão e urucum. Para tanto, utilizavam o trabalho indígena negociado por meio do escambo em que os batavos ofertavam mercadorias manufaturadas, por exemplo, machados, contas de vidro, tesouras, facões, armas e em troca os ameríndios trabalhavam com os europeus. Esse comércio foi importante e lucrativo, pois a relação com os indígenas era considerada amigável, o que exigia poucos gastos com armamento, fortalezas e soldados gerando bons lucros (HULSMAN, 2011). Os produtos levados do Cabo Norte para Europa eram bastante valorizados na Europa, principalmente as madeiras e o tabaco. Fato interessante foi que para facilitar o comércio com os indígenas, os holandeses levaram indígenas para aprender a sua língua e depois retornavam e exerciam a função de intermediários.
Acompanhamos o que Barão do Rio Branco afirma sobre a presença holandesa no “Amapá”: “por volta de 1610, os holandeses possuíam feitorias e postos fortificados na região dos Tucujus, entre o Jari e o Macapá, na margem setentrional do Amazonas” (RIO BRANCO, 2012, p. 107). Isso significa que esses europeus estabeleceram vários pontos comerciais e militares neste território com o objetivo de explorar comercialmente. Nas fortificações, por meio do trabalho do indígena criaram-se vários assentamentos onde se plantava e exportava para Europa. Um forte holandês conhecido dos estudiosos estava localizado próximo a foz do rio Araguari, entre os rios Mayacaré ou Maricary e o Cassiporé, ou seja, o forte de Mayacaré. Possivelmente construído por volta de 1633 e conquistado pelo governador do Pará, Sebastião de Lucena de Azevedo, em 1646 que os holandeses foram expulsos das “terras do Cabo Norte”. Vejamos o que diz o historiador Alírio Cardoso sobre o estilo de construções desses pequenos fortes na Amazônia: “eram de taipa de pilão reforçada com madeira de lei e algumas poucas pedras, a mesma técnica utilizada na maioria das construções portuguesas na Amazônia seiscentista que contou sempre com larga utilização do trabalho indígena” (CARDOSO, 2015, p. 47). Abaixo se tem um mapa holandês do século XVIII que mostra o “Amapá” e principalmente onde estava localizado o acidente geográfico “Cabo Norte” (Kaap Nord):
                               Mapa - Parte do mapa de Isla de Guyanas
Fonte: Hartsinck 1770, Universidade de Amsterdã.


          Portanto, os holandeses criaram pequenos fortes no Cabo Norte (atual Amapá) durante o século XVII com o objetivo não apenas militar, mas principalmente comercial. Os indígenas foram fundamentais, pois sem eles a colonização europeia era impossível de acontecer. Por meio do escambo ocorreram as negociações em que os ameríndios extraíam e plantavam vários produtos que foram vendidos na Europa. Além disso, as alianças com as populações nativas foram fundamentais também na defesa dos fortes e nas lutas contra os portugueses. Todos os europeus buscavam essas alianças para obter alguma chance de vitória, pois os ameríndios conheciam a região e usavam as táticas de guerra mais apropriadas para realidade amazônica.

Referências
CARDOSO, Alírio. Canoa e arcabuz: a guerra hispano-holandesa na Amazônia (1621-1644). In: CARDOSO, Alírio, BASTOS, Carlos; NOGUEIRA, Shirley (org.). História militar da Amazônia: guerra e sociedade (séculos XVII-XIX). Curitiba: Editora CRV, 2015. p. 33-56. 
                           
HULSMAN, Lodewijk. Swaerooch: o comércio holandês com índios no Amapá (1600-1615). Revista Estudos Amazônicos, Belém, v. 6, n. 1, p. 178-202. 2011.

HULSMAN, Lodewijk. Escambo e tabaco: o comércio dos holandeses com índios no delta do rio Amazonas (1600-1630). In: CHAMBOULEYRON, Rafael; SOUZA JUNIOR, José Alves (Org.). Novos olhares sobre a Amazônia colonial. Paka-Tatu: Belém, 2016. p. 39-59.

RIO BRANCO, Barão do. Obras do barão do Rio Branco III: questões de limites Guiana Francesa primeira memória. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012.