quarta-feira, 17 de junho de 2015

Atenas: a maravilha grega


Não poderia ser com outra imagem que iniciamos nossa viagem pela história da pólis de Atenas. A imagem acima é do conhecido Pathernon, templo construído na acrópole de Atenas durante o governo de Péricles no século V a.c. É um templo dedicado a deusa Atena e e considerada uma obra de grande esplendor arquitetônico. Esta pólis é muito mais documentada que qualquer outra da Grécia antiga. Aqui surgiu a democracia, lugar de grandes filósofos e políticos.

Vaso sobre a deusa Atena ( sabedoria, guerra)


Atenas fica na região da ática, caracterizada pela pouca fertilidade do solo por isso a produção de trigo e cevada era insuficiente para alimentar a população. Região de bastante colinas o que favoreceu o cultivo de oliveiras e uvas. Ao sul da ática os atenienses desenvolveram a mineração da prata e o excelente porto de Pireu favoreceu o comércio marítimo.
De maneira geral as poléis gregas estavam estruturadas em Acrópole (cidade alta) onde estavam templos e outras estruturas, bem como, tinha a finalidade de proteção da cidade. A ágora (praça pública) onde estavam os principais edifícios públicos e onde reuniam-se para as reuniões e a asti uma espécie de mercado por onde as pessoas circulavam e realizavam as trocas comerciais.

Acrópole de Atenas


O poder em Atenas

É comum lembrarmos de Atenas pela invenção da democracia, mas nem sempre foi assim. Esta instituição foi desenvolvendo-se com o passar do tempo. Inicialmente Atenas era uma monarquia. Isso mesmo. Governada por um rei que era chefe militar, político e religioso. Aos poucos os proprietários de terras exigiram participar do poder ao ponto da cidade tornar-se aristocrática, ou seja, governada por poucos e mais especificamente os eupátridas (bem-nascidos), os nobres. Com o passar do tempo outros grupos enriquecidos também exigiram maior participação política.

As leis
Para controlar os conflitos entre as classes populares e a oligarquia segundo a tradição grega Drácon (personagem lendário) transformou as leis orais em escritas no século VII a.c. A vantagem disso foi que elas tornara-se públicas e aplicáveis a todos.
Porém, os aristocratas continuaram com o poder e é que surge um legislador chamado Sólon. Este tomou algumas medidas que ampliaram a participação no poder, são elas: Aboliu a escravidão por dívidas entre os atenienses, cancelou dívidas, criou a Helieia, dividiu a sociedade pelo critério de renda ( não mais pelo nascimento, mas pela riqueza), conferiu maiores poderes à assembleia e institui a bulé. Apesar dessas modificações o poder permaneceu nas mãos dos ricos.
Neste contexto de conflitos surgem os tiranos em Atenas, estes são aqueles que assumem o poder por meio da força e com o apoio das classes populares, inclusive, alguns tiranos obtiveram grande apoio popular. O mais conhecido foi Psístrato no século VI a.c. que criou um tipo de crédito agrícola, distribuiu aos camponeses as terras dos nobres exilados, favoreceu os cultos populares, construiu grandes obras civis e religiosas, favoreceu a cultura e o crescimento econômico e mandou transcrever os poemas Ilíada e Odisseia.
Coube a Clístenes, o "o pai da democracia", criar instrumentos para o estabelecimento da democracia ateniense.

A democracia ateniense e suas instituições


Etimologicamente democracia significa "governo de todos" e a partir do século V a.c esta pólis viveu um momento único de sua história. Porém, como era a democracia em Atenas? Quem votava? Era igual a nossa? É o que veremos. Preste bem atenção nisso!
Em Atenas a democracia era direta, ou seja, não se elegiam representantes. A votação acontecia na assembleia dos cidadãos e geralmente levantado os braços. Todo cidadão tinha direito a ter a palavra e ser ouvido, além disso para escolher pessoas para assumirem algumas funções públicas realizava-se sorteios. 
Este sistema era limitado, pois nem todos eram considerados cidadãos. Somente homens adultos filhos de pai e mãe atenienses. Isso significa que crianças, mulheres, estrangeiros e escravos não possuíam direitos políticos. Bem diferente da democracia brasileira e do conceito de cidadania que temos hoje. Segundo algumas estimativas 10% da população era considerada cidadã. 
As decisões na assembleia deveriam ser colocadas em prática. Como as discussões eram realizadas em praça pública aqueles que possuíam a capacidade de convencimento, isto é, oratória conseguiam que suas ideias prevalecessem.
Como hoje o poder da palavra prevalecia e nem sempre para o bem de todos. Mesmo em Atenas a corrupção foi constante com vários tipos de artimanhas. Veja a citação:

“... grupos poderosos, defendendo seus interesses privados, utilizando todo tipo de corrupção, contratando oradores profissionais (discípulos de professores de retórica e de sofistas), manipulavam a escolha de cargos e mesmo a Assembléia popular. O povo, assim conduzido e enganado, apesar de decidir e votar, decidia e votava, muitas vezes, contra os seus próprios interesses reais. (BENOIT, 1996, p. 19).


“Ah Atenienses, se a boulé dos Quinhentos e a ekklesía estivessem regularmente dirigidas por aqueles que as presidem, se ainda se observassem as leis de Sólon sobre a disciplina dos oradores, o mais idoso dos oradores sendo o primeiro a falar(...). Mas hoje as regras que todos consideravam boas foram abandonadas...” (ÉSQUINES, contra Ctesifonte apud ACKER, 1994).


Por estes textos percebe-se que a democracia não foi as mil maravilhas como os livros escolares demonstram. Foi bastante limitada, mas foi o que as condições históricas permitiram. Excluir mulheres, crianças, estrangeiros e escravos limitava bastante este sistema.


























Este infográfico resume os diversos órgãos da democracia ateniense, mas resumirei alguns:
  • Eclésia ou assembleia: os cidadãos (homens adultos, filhos de pais e mães atenienses) reuniam-se em praça pública para discutir as questões pertinentes à cidade. Geralmente acontecia dez vezes ao ano. Este no século V a.c tornou-se a instituição máxima.
  • Bulé: formado por 500 cidadãos escolhidos anualmente por sorteio e com mais de 30 anos de idade. Suas funções eram elaborar leis para serem votadas na eclésia, aconselhar magistrados e elaborar decretos.
  • Helieia ou heliaía (Tribunal popular): 6000 jurados sorteados entre os cidadãos maiores de 30 anos que julgavam questões comuns.
  • Areópago: Tribunal que aplicava a justiça, julgava as questões religiosas, educacionais e os crimes mais graves;
  • Estrategos: principais funcionários com poder legislativo e executivo além de comandarem o exército.
  • Arcontes: magistrados que presidem os tribunais.
  • Ostracismo: uma lei instituída por Clístenes que exilava por 10 anos o cidadão que fosse considerado perigoso para a democracia.
 Vele ressaltar que a democracia esteve diretamente ligada à escravidão, ou seja, o cidadão ateniense dedicava-se a vida pública porque havia escravos que realizavam as atividades econômicas, ou seja, graças aos escravos também que a democracia desenvolveu-se.

"Democracia e escravidão apresentam-se a partir desta época como duas idéias dependentes entre si. À medida que o cidadão vai se liberando do exercício direto das atividades econômicas (trabalho no campo essencialmente) para se dedicar às tarefas políticas, vai sendo substituído pelo escravo como força de trabalho"(FLORENZANO, 1982, p.26).

Sociedade
  • Cidadãos atenienses: somente este grupo social possuía direitos políticos, homens adultos, filhos de pai e mãe ateniense ( a partir de 451 a.c), não pagavam impostos, tinham acesso à terra, pobres e ricos. Interessante que o ideal de cidadão grego é aquele que dedica-se à vida pública, ao lazer e que não tem necessidade de realizar qualquer atividade econômica é o famoso ócio grego. Entendam bem, isso não significa ser preguiçoso. É algo que era da mentalidade do grego antigo, ou seja, o bom cidadão é aquele que discute as questões da cidade. Vale ressaltar, que o cidadão pobre apesar de ter essa visão negativa em relação ao trabalho manual trabalhava na agricultura, comércio, artesanato para poder manter-se, era necessidade.
  • Metecos: eram livres, estrangeiros, sem direitos políticos, não possuíam terras pagavam impostos, não poderiam possuir terras, prestavam serviço militar e realizavam as atividades produtivas( comércio e artesanato).
  • Escravos: poderia ser prisioneiro de guerra ou nascimento. Era considerado uma mercadoria e realizavam todas as formas de servições que se possa imaginar. Mas as condições variavam. Em relação aos escravos particulares a sua condição comparada com o público era pior. Estes últimos recebiam alimentação, vestimenta além de morarem onde quiserem. Com seu trabalho acumulavam recursos que usavam na compra da sua liberdade. Havia também escravos que trabalhavam fora da casa de seu dono e dividia com ele o que recebia e é claro também guardava para comprar sua liberdade. 

O escravo criado por Atenas, e que é base do modo de produção escravista, é de outro tipo: é o chamado “escravo-mercadoria”, vendido e comprado num mercado internacional de escravos e que, desvinculado totalmente de sua terra de origem, de sua família e comunidade, tornava-se apenas, para usar a expressão celebre de Aristóteles, “uma coisa viva”, ou seja, um mero instrumento de trabalho, uma mera ferramenta de produção.” (BENOIT, 1996, p. 20)

Nesta citação acima percebe-se como o escravo era percebido, um mero instrumento falante,


“a população de Escravos em Atenas no período Clássico era de aproximadamente 300.000, cerca de 40% da população total.” (FINLEY, 1963, p. 73).

 Aos poucos o sistema escravista foi tornando-se predominante em Atenas. Sem dúvida foi a primeira civilização da antiguidade a adotar o sistema escravista como base de produção.

A condição da mulher

Em Atenas a mulher era considerada inferior ao homem e desde criança era preparada para o casamento e a procriação. Não era comum ver mulheres andando na cidade sem a presença do marido. As mulheres ricas possuíam um lugar próprio na casa chamado gineceu onde realizavam suas atividades diárias, ou seja, fiar e tecer. A mulher pobre, ao contrário, ajudava o marido no trabalho fora de casa.
Vejamos a visão dos gregos sobre a mulher em algumas obras literárias da antiguidade:

"Ninguém pode confiar nas mulheres" (Homero, Odisseia)
"Maligno é por natureza o sexo feminino" ( Eurípides, As fenícias)
" A mulher vale pouco"(Eurípides, Ifigênia em Táuride)

 Comparando com a condição da mulher na sociedade atual percebe-se quanto a mulher ganhou espaço a custa de muitas lutas por ter direitos reconhecidos. Infelizmente ainda há resquícios dessa visão negativa em relação à mulher.

Educação

a educação era um encargo das famílias, através das mães e dos professores contratados, o que tornava a formação completa do cidadão um privilégio de ricos. Esses professores particulares ensinavam os jovens a música, os esportes (corrida, arremesso de disco, dardo, salto, luta e boxe); e a poesia (fundamental para sociabilidade, por ser declamada nos banquetes, e mesmo para o desenvolvimento na arte de falar). As escolas eram todas particulares"(ACKER, 1994, p. 29).

Esta citação revela algo essencial, ou seja, a educação era particular. Logo só as famílias ricas poderia pagar por professores. Esta consistia em formar um bom cidadão capaz de defender suas posições na eclésia e por isso valorizavam a oratória. Além de estudarem álgebra, poesia, história, música era integrante da formação a prática de atividades físicas: ginástica, boxe, luta, arremesso. Tudo isso para formar integralmente o ateniense. 

Por professor Bruno Rafael 


Referências

ACKER, Teresa Van. Grécia: a vida cotidiana na cidade-estado. São Paulo: Atual, 1994.
BENOIT, Hector. Sócrates: O nascimento da razão negativa. São Paulo: Ed. Moderna, 1996. 
FERREIRA, Olavo Leonel. Visita à Grécia antiga. São Paulo: Moderna, 1997.
FINLEY, Moses I. Os gregos Antigos. Coleção: Lugar da História, Edições 70; Lisboa, 1963.

FLORENZANO, Maria Beatriz B. O mundo antigo: economia e sociedade. São Paulo: Brasiliense, 1982.
FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. São Paulo: Contexto, 2009.


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