quarta-feira, 8 de julho de 2015

A mitologia grega

Estátua de poseidon (deus do mar)





A mitologia grega encanta ainda hoje seus leitores. A indústria cinematográfica explora bastante os seres criados pelos gregos. Atualmente ganhou destaque, sobretudo, entre adolescentes e jovens várias séries de livros que se baseiam na mitologia helênica. Neste texto vamos separar por fins didáticos a mitologia da religião em si. Em outra postagem analisarei a questão do culto na religião grega que é inseparável dos mitos.
Entre os historiadores existem basicamente duas vertentes em relação aos mitos gregos. Uns associam os mitos como inerente à religião grega e outros que separam. Dentre os últimos temos Paul Veyne que afirma:
Afinal, a mitologia grega, cuja ligação com a religião era das mais fracas, no fundo não foi outra coisa senão um gênero literário muito popular, um vasto quadro de literatura, sobretudo oral, se já for válido usar o termo literatura, anteriormente à distinção da realidade e da ficção, quando se admite o elemento lendário tranquilamente (VEYNE, 1984, p. 27).

Neste texto apesar da separação meramente didática acredita-se que o mito não é apenas um gênero literário, mas um dos aspectos da religião em que eram levantados templos para cultuar os deuses, orações e sacrifícios a essas divindades como assevera o helenista Jean Pierre Vernant em seu livro Mito e religião na Grécia antiga e que a separação entre mito e religião não passa de um preconceito anti-intelectualista em matéria religiosa (VERNANT, 2009) mas este é tema para uma próxima postagem.
Os gregos acreditavam em seus mitos?

Parece estranho acreditarmos que os gregos acreditavam em mitos que para muitos não passam de fantasias desconexas da realidade. Para os gregos a o sentido de verdade é bem diferente do nosso como demonstra Paul Veyne (1984, p.28 ) “Estes mundos lendários eram cruamente verdadeiros, no sentido que não se duvidava deles, mas não se acreditava neles como se acredita nas realidades que nos circundam”. E ainda “é impossível que um mito seja inteiramente mítico. Os gregos puderam criticar as fábulas no detalhe, mas não negligenciá-las. O único debate consistia em decidir se a mitologia era verídica apenas em parte ou na sua totalidade”(VEYNE, 1984, p. 74). Isso quer dizer que o mito é verdadeiro no sentido figurado, mas não histórico. Ele tem um alto ensinamento filosófico (VEYNE, 1984). Os gregos buscavam o núcleo de verdade em seus mitos.

O que são os mitos?

Ao contrário que muita gente pensa os mitos não são sinônimos de mentiras, falsidades, invenções sem relação com a realidade, lendas imbecis. Eles são uma tentativa de explicar a realidade, sobretudo, as origens das coisas. Desse modo, o mito é uma forma de explicar o mundo, de atribuir sentido ao existente e assim tranquilizar o ser humano. Trata-se de uma verdade intuída, cuja autoria se perde no tempo, sendo, em geral, considerado como uma produção anônima e coletiva. Portanto, os mitos não são fantasias, mas uma forma de explicação que busca dar sentido ao espírito humano. A sua verdade não é histórica, mas alegórica. Ele ensina algo, pois o homem mais do que um ser racional e político como definiu Aristóteles ou um ser que produz como ensinou Marx e Engels é um ser simbólico.
Segundo o filósofo Cassirer (1994, p.50):

O homem não pode fugir à sua própria realização. Não pode senão adotar as condições de sua própria vida. Não estando mais num universo meramente físico, o homem vive em universo simbólico. A linguagem, o mito, a arte e a religião são partes desse universo. São variados fios que tecem a rede simbólica, o emaranhado da experiência humana. Todo progresso humano em pensamento e experiência é refinado por essa rede, e a fortalece. O homem não pode mais confrontar-se com a realidade imediatamente; não pode vê-la, por assim dizer, frente a frente. A realidade física parece recuar em proporção ao avanço da atividade simbólica do homem.

A realidade é muito maior que imaginamos e nós humanos como seres simbólicos precisamos de mediações para atingir algum aspecto da realidade e os mitos cumprem esta função.

A mitologia grega

Estátua de Zeus

Podemos chamar de mitologia grega o conjunto de lendas e narrativas sobre deuses, heróis, ninfas, centauros. As explicações mitológicas têm, na maior parte das vezes, um caráter fantástico. A Mitologia Grega originou-se da união das mitologias dórica e micênica. Seu desenvolvimento ocorreu por volta de 700 a. C.
Os mitos eram transmitidos oralmente nas casas através das amas-de-leite, contados pelos avós em que as crianças assimilavam desde o berço, bem como, dos aedos (poetas) que acompanhados de instrumentos musicais cantavam publicamente em banquetes, festas oficiais, concursos ou jogos os feitos dos seres sobrenaturais (VERNANT, 2009). Somente depois passaram a ser escritos, como por exemplo, em Ilíada e Odisseia do século VIII a.c em que a tradição atribui a Homero.
Pode-se dizer que na Grécia Antiga a religião era politeísta, pois os gregos adoravam a vários deuses. Não existem escrituras sagradas (como a Bíblia para os cristãos) a respeito da Mitologia Grega. Interessante que os deuses possuíam sentimentos humanos, ou seja, sentiam inveja, ciúmes, ódio, amor e paixão, bem como, a forma humana. Era comum os deuses se apaixonarem por humanos e com eles terem filhos. Alguns heróis eram filhos de deuses e humanos. Os deuses, diferentes de seus filhos, eram imortais.
Para os Gregos, os deuses eram descendentes da terra - Gaia - e do céu - Urano - e tinham grandes semelhanças com os homens.
O Monte Olimpo é o ponto mais alto de toda a Grécia com uma altitude de 2 917 m.  Na antiga Grécia foi considerado a casa dos deuses importantes. Segundo reza a história  a entrada para o Olimpo fazia-se através de um portão feito de nuvens, isto talvez se possa atribuir ao fato de o cume da montanha, devido à sua altitude, estar sempre coberto de nuvens.
Os deuses do Olimpo são os deuses mais poderosos dos vários grupos de deuses. Os deuses do Olimpo se dividem em várias classes. A classe superior é formada pelos seguintes deuses:
  • Zeus - governante dos demais deuses.
  • Hera– deusa que protegia casamentos (irmã e esposa de Zeus).
  • Apolo  - deus da luz, poesia e da música.
  • Atena- deusa da sabedoria.
  • Afrodite- deusa do amor e da beleza.
  • Ares- deus da guerra.
  • Poseidon- deus do mar
  • Hefesto- deus do fogo
  • Ártemis- deusa da caça
  • Héstia - deusa do coração e da chama sagrada
  • Deméter- deusa da agricultura.
  • Hermes - mensageiro dos deuses.
A classe inferior dos deuses é formada por:
  • Hades- deus do subterrâneo (irmão de Zeus)
  • Dioniso - deus do vinho, em algumas regiões era tão importante quanto Zeus.
  • Pã - deus das florestas.
As ninfas eram consideradas as guardiãs da natureza e as musas, representavam as artes e as ciências.

Os heróis ou semideuses

Além dos deuses os heróis também eram cultuados na religião grega. Alguns heróis eram filhos dos deuses com mortais. Como atesta Jean Pierre Vernant (2009, p.48 ), “Os personagens heroicos cujos os nomes sobreviveram e cujo culto era celebrado em seus túmulos apresentam-se muito frequentemente como frutos desses encontros amorosos entre divindades e humanos dos dois sexos”. As características dos heróis é que viveram em tempos antigos já acabados em que os homens eram diferentes daquilo que são hoje: eram mais fortes, maiores e belos. Além de permanecer na memória dos gregos, pois eram cantados pelos aedos, mesmo sendo homens, sob vários pontos de vistas eram mais próximos dos deuses que a humanidade atual; na morte não desciam às trevas do Hades, pois iam para um lugar especial, ou seja, as ilhas dos bem-aventurados, onde gozavam da felicidade numa vida semelhante aos deuses. Fora que alguns eram “arrebatados” antes da morte. A maioria dos heróis foram heroicizados devido alguma qualidade que possuíam como força, beleza, canto. Os principais heróis ou semideuses foram:

Aquiles
Era o guerreiro mais forte dos gregos. Filho de um homem (Peleu) e da deusa Tétis. Quando nasceu sua mãe mergulhou-o nas águas de um rio que protegiam todas as partes do seu corpo banhadas pelas águas. Mas como a mãe lhe pegou pelo calcanhar foi só esta parte do corpo que era vulnerável. Morreu no assalto a Tróia, trespassado por uma flecha que se cravou no seu calcanhar.
Hércules
Herói grego muito forte enfrentou doze dificuldades, conhecidas pelos doze trabalhos de Hércules.
Jasão
Chefiou a expedição dos argonautas em busca do “velo de ouro” tendo enfrentado imensos perigos e aventuras.
Perseu
Filho de Zeus, casou com Andrômeda. Na sua viagem de regresso da Etiópia transformou os seus companheiros em pedra ao mostrar-lhes a cabeça da Górgona.
Édipo
Rei de Tebas decifrou o enigma da esfinge. Sem o saber matou o pai e casou com a própria mãe. Mais tarde, quando soube o que fizera, cegou-se a si próprio para não contemplar o horror que cometera.
Teseu
Venceu o Minotauro que era o monstro que existia no labirinto de Creta, com a ajuda de Ariadne.


 
Teseu matando o minotauro

                                                      Animais e monstros mitológicas

Centauro
Metade homem, metade cavalo.
Ciclopes
Criaturas gigantes com um olho no meio da testa
Minotauro
Metade touro, metade homem guardava o labirinto de Creta
Pégaso
Cavalo alado


 

Dentre os diversos mitos vou descrever e comentar o mito da caixa de Pandora . Vejamos:

A caixa de Pandora



A caixa de Pandora é uma expressão muito utilizada quando se quer fazer referência a algo que gera curiosidade, mas que é melhor não ser revelado ou estudado, sob pena de se vir a mostrar algo terrível, que possa fugir de controle. Esta expressão vem do mito grego, que conta sobre a caixa que foi enviada com Pandora a Epimeteu.

Pandora foi enviada a Epimeteu, irmão de Prometeu, como um presente de Zeus. Prometeu, antes de ser condenado a ficar 30.000 anos acorrentado no Monte Cáucaso, tendo seu fígado comido pelo abutre Éton todos os dias,alertou o irmão quanto ao perigo de se aceitar presentes de Zeus.

Epimeteu, no entanto, ignorou a advertência do irmão e aceitou o presente do rei dos deuses, tomando Pandora como esposa. Pandora trouxe uma caixa (uma jarra ou ânfora, de acordo com diferentes traduções), enviada por Zeus em sua bagagem. Epimeteu acabou abrindo a caixa, e liberando os males que haveriam de afligir a humanidade dali em diante: a velhice, o trabalho, a doença, a loucura, a mentira e a paixão. No fundo da caixa, restou a Esperança (ou segundo algumas interpretações, a Crença irracional ou Credulidade). Com os males liberados da caixa, teve fim a idade de ouro da humanidade.

Interpretação

Pode-se perguntar quanto ao sentido desta lenda: por que uma caixa, ou jarra, contendo todos os males da humanidade conteria também a Esperança? Na Ilíada, Homero conta que, na mansão de Zeus, haveria duas jarras, uma que guardaria os bens, outra os males. A Teogonia de Hesíodo não as menciona, contentando-se em dizer que sem a mulher, a vida do homem não é viável, e com ela, mais segura. Hesíodo descreve Pandora como um "mal belo" (καλὸν κακὸν/kalòn kakòn).

O nome "Pandora" possui vários significados: panta dôra, a que possui todos os dons, ou pantôn dôra, a que é o dom de todos (dos deuses).

A razão da presença da Esperança com os males deve ser procurada através de uma tradução mais acurada do texto grego. A palavra em grego é ἐλπίς/elpís, que é definida como a espera de alguma coisa; pode ser traduzida como esperança, mas essa tradução seguramente é arbitrária. Uma tradução melhor poderia ser "antecipação", ou até o temor irracional. Graças ao fechamento por Pandora da jarra no momento certo, os homens sofreriam somente dos males, mas não o conhecimento antecipado deles, o que provavelmente seria pior.

Eles não viveriam o temor perpétuo dos males por vir, tornando suas vidas possíveis. Prometeu se felicita assim de ter livrado os homens da obsessão com a própria morte. Uma outra interpretação ainda sugere que este último mal é o de conhecer a hora de sua própria morte e a depressão que se seguiria por faltar a esperança.

Um outro símbolo está inserido neste mito. A jarra (pithos) nada mais é que uma simples ânfora: um vaso muito grande, que serve para guardar grãos. Este vaso só fica cheio através do esforço, do trabalho no campo, seu conteúdo então simboliza a condição humana. Por consequência, será a mulher que a abrirá e a servirá, para alimentar a família.

Uma aproximação deste mito pode ser feita com a Queda de Adão e Eva, relatada no livro do Gênesis. Em ambos os mitos é a mulher, previamente avisada (por Deus, na Bíblia, ou, aqui, por Prometeu e por Zeus), que comete um erro irremediável (comendo o fruto proibido, na Bíblia, ou, aqui, abrindo a caixa, ou jarra, de Pandora), condenando assim a humanidade a uma vida repleta de males e sofrimentos. Todavia, a versão bíblica pode ser interpretada como mais indulgente com a mulher, que é levada ao erro pela serpente, mas que divide a culpa com o homem.

A mentalidade politeísta vê Pandora como a que deu ao homem a possibilidade de se aperfeiçoar através das provas e da adversidade (o que os monoteístas chamam de males). Ela lhe dá assim a força de enfrentar estas provas com a Esperança. Na filosofia pagã, Pandora não é a fonte do mal; ela é a fonte da força, da dignidade e da beleza, portanto, sem adversidade o ser humano não poderia melhorar.

Por Professor Bruno Rafael

Referências

CASSIRER, Ernst. Ensaio sobre o homem: introdução a uma filosofia da cultura humana. Trad. Tomas Rosa Bueno. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
FERREIRA, Olavo Leonel. Visita à Grécia antiga. São Paulo: Moderna, 1997;
VERNANT, Jean-Pierre. Mito e religião na Grécia antiga. Trad. Joana Angélica. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
VEYNE, Paul. Acreditavam os gregos em seus mitos? Ensaio sobre a imaginação constituinte. São Paulo: Brasiliense, 1984.
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