quarta-feira, 6 de abril de 2016

A origem do homem americano: as teorias



Teorias sobre a origem do homem na América

Crânio de Luzia, encontrada em Minas Gerais


Poucas pessoas param para pensar sobre a origem dos povos indígenas que estavam na América antes da chegada dos europeus ou quem eram seus antepassados. Os pesquisadores ao longo do tempo criaram algumas teorias para explicar as origens humanas em nosso continente. Para o argentino Ameghino o Homo sapiens sapiens (nossa espécie) teria surgido na Argentina, esta hipótese foi completamente abandonada no século XX e desde então sabe-se que nossa espécie tem origem única e na África. A tese de autoctonia do homem americano, ou seja, de que a espécie teria surgido aqui não encontra adeptos. A visão predominante é de que o homem chegou à América. As teorias diferenciam-se sobre quando e como chegaram à América.

1ª Teoria. Teoria Clóvis: o estreito de Bering
             Até pouco tempo, quase todos afirmavam que as primeiras comunidades humanas da América teriam vindo da Ásia, por volta de 12 000 a.C., saindo do atual território russo da Sibéria, atravessando o estreito de Bering (quem tem umas poucas dezenas de quilômetros de largura) e chegando à região hoje ocupada pelo Alasca. A partir daí, o povoamento fora se expandindo lentamente, primeiro pela América do Norte e, depois, pela América Central, para finalmente atingir a América do Sul.
Essa teoria baseava-se em um pressuposto, em um acontecimento físico-geográfico e em várias descobertas arqueológicas. Esses elementos podem ser resumidos como a seguir.
Pressuposto. O homem primitivo era incapaz de desenvolver técnicas de navegação; portanto, não poderia ter chegado à América cruzando o Atlântico ou o Pacífico. Assim, só lhe restava um caminho: o estreito de Bering, com cerca de 100 km, que separa a Ásia da América.
Acontecimento físico-geográfico. A glaciação-redução da temperatura da Terra-, entre 35000 a.C e 12000 a.C. Com a queda de temperatura, a massa de gelo polar aumentou e o nível dos oceanos abaixou. O estreito de Bering teria então ficado seco, permitindo a passagem dos seres humanos a pé, da Ásia para a América.
Descobertas arqueológicas. Os vestígios humanos mais antigos encontrados em nosso continente datavam aproximadamente de 12 000 a.C. e foram descobertos na América do Norte. Os mesmos tipos de vestígios eram, na América Central, de aproximadamente 9000 a.C.; e na América do Sul, de 8000 a.C. na região dos Andes, e de 6000 a.C no atual território brasileiro.
Tais elementos davam a essa teoria um aspecto bastante lógico e, inclusive, indicavam o caminho seguido pelo homem até chegar a América do Sul. Ultrapassando o Panamá, ele acompanhara a cordilheira dos Andes, em direção ao sul e finalmente descera para as regiões mais baixas, a maior parte delas ocupadas hoje pelo Brasil.
Por essa teoria os ancestrais dos indígenas seriam asiáticos, ou seja, com características mongoloides o que confirmaria a semelhança entre os índios e os asiáticos.

2ª Teoria: via navegação
Tal hipótese afirma a possibilidade de que grupos vindos da Austrália e das ilhas da Polinésia atravessaram o oceano Pacífico por meio de embarcações chegando ao Peru e povoando a América do sul. A maioria dos cientistas não admitem essa possibilidade, visto que, ainda não seriam capazes de criar embarcações.
Esta imagem ilustra essas duas teorias

As novas hipóteses
A partir de 1970, novos conhecimentos históricos e descobertas arqueológicas começaram a por em dúvida as antigas teorias, e hoje já se pode afirmar que, muito provavelmente, os caminhos do homem na América foram outros.
Primeiro, surgiu uma dúvida. A glaciação que pôs a seco o estreito de Bering fez a temperatura da região, que já era baixa, cair a níveis quase insuportáveis. Se o ser humanos primitivo foi capaz de criar técnicas para sobreviver nessas condições, por que não poderia também desenvolver meios de navegação. Todavia, não se podia provar a incapacidade do homem daquela época para navegar, mas também não havia provas de que fosse capaz de fazê-lo.
Surgiu então um fato novo, numa região muito distante da América. Também se dizia que, na Austrália, o homem só chegara por volta de 7000 a.C., pois antes disso não conseguiria navegar até aquela ilha-continente. Porém descobriram fósseis nessa região de mais de 40 mil anos atrás.
No sítio de Monte Verde explorado pelo arqueólogo Tom Dillehay, ao sul do Chile, foram encontrados vestígios arqueológicos que sugerem uma presença humana há 12.300 anos. Os estudos da pesquisadora Anna Roosevelt sobre Pedra Pintada, sítio localizado na cidade de Monte Alegre, Pará, indicam a ocupação do homem na floresta amazônica por volta de 11.300 anos atrás. Os resultados obtidos nesse local levaram a pesquisadora apresentar um outro modelo teórico de explicação da ocupação da América, o qual foi chamado de "Clóvis em contexto". Segundo esse modelo, a cultura Clóvis não era a mais antiga ocupação no continente da qual derivam todas as demais populações americanas.
Achados em outros sítios arqueológicos espalhados pela América do Sul reforçam a teoria de uma ocupação pré-Clóvis do continente, no final do período Pleistoceno, anterior a 10 mil anos, e no início do Holoceno, nossa atual era geológica. Em Taima-Taima, sítio venezuelano, há indícios de presença humana que remontam a 15 mil anos. Na Argentina, nos sítios de Piedra Museo e Los Toldos, existem vestígios humanos de aproximadamente 13 mil anos. Os sítios de Tibitó, Colômbia, e os de Quebrada Jaguay e Pachamachay, no Peru, possuem datações antigas de até 11.800 anos. No Brasil, em Lapa do Boquête, Vale do Peruaçu, e em Lapa Vermelha e Santana do Riacho, Lagoa Santa, todos estes em Minas Gerais, e no Boqueirão da Pedra Furada, São Raimundo Nonato, Piauí, foram encontradas evidências remotas, anteriores a 10 mil anos. Em Minas Gerais, Lagoa Santa, foi descoberto um crânio de uma mulher que tem características semelhantes dos africanos e aborígenes australianos com datação de aproximadamente 11.680 anos. Quando e como teria chegado à América?
Em seguida, mais descobertas arqueológicas. No sul da Argentina, encontram-se vestígios humanos de 10 000 a.C. No Brasil, então houve achados ainda mais interessante. Nos sítio arqueológico da Pedra Furada, no Piauí, descobriu-se um incrível acervo arqueológico que inclui centenas de pinturas rupestres, grande número de esqueletos e milhares de utensílios. As pinturas foram datadas em mais de 20 mil anos e os utensílios, em mais de 56 mil anos.
Portanto, possivelmente vários grupos com características diferenciadas e em períodos diferentes chegaram à América, ou seja, várias migrações ocorreram na América.

Referências
ALVES, Alexandre; OLIVEIRA, Letícia Fagundes. Conexões com a história. 2.ed. São Paulo: Moderna, 2013.
BOULOS JUNIOR, Alfredo. História sociedade & cidadania. 6 ano. 2.ed. São Paulo: FTD, 2012.
FUNARI, Pedro Paulo; NOELLI, Francisco Silva. Pré-História do Brasil. 3.ed. São Paulo: Contexto, 2006. (Repensando a História).
VICENTINO, Cláudio. Projeto Radix: história. 6 ano. São Paulo: Scipione, 2009.

Texto elaborado pelo Professor Bruno Rafael Machado Nascimento


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