quarta-feira, 24 de abril de 2019

As ordens religiosas na Amazônia colonial



Professor Me. Bruno Rafael Machado Nascimento


Diversas ordens religiosas da Igreja Católica estiveram atuando na Amazônia colonial com o objetivo principal de catequizar os povos indígenas. Obviamente que tiveram outras funções, por exemplo, evangelizar os moradores portugueses, fundação de colégios, criaram igrejas, conquistaram fazendas, instituíram várias missões desde o século XVII, desenvolveram as artes, exploraram a força de trabalho indígena e negra, influenciaram e foram influenciados pelos indígenas.
Os historiadores afirmam que os missionários estiveram lado a lado com o governo português para a expansão territorial, povoamento da região e “pacificação” dos indígenas em favor de Portugal, ou seja, garantia do território. Entretanto, os missionários nem sempre mantinham boas relações com o Estado português e nem com os moradores. Estes últimos acusavam principalmente os padres da Companhia de Jesus de controlar os povos indígenas evitando que trabalhassem para os portugueses.
Os missionários foram enviados para os “sertões” para estabelecer as missões ou aldeamentos com o intuito de converter os ameríndios tornando-os cristãos e súditos do rei de Portugal. Eles penetravam nas florestas, rios, igarapés, lagos. Enfrentaram as doenças e diversas sociedades indígenas resistiram à ação dos missionários chegando à matá-los. Outros povos aceitavam viver nas missões para se protegerem da escravidão, em troca de presentes, de benefícios, de objetos que facilitassem as suas vidas. Portanto, a colonização só foi possível também à ação dos missionários e aos indígenas. Observe as principais ordens religiosas que estiveram na Amazônia: Frades de Santo Antônio, Jesuítas, Carmelitas, Mercedários, Capuchos da Piedade e Frades da Conceição da Beira do Minho.

Frades de Santo Antônio
Chegaram com o frei Antônio de Marciana em Belém no ano de 1617. Missionaram os indígenas da região que ao se aliarem aos portugueses ajudaram a combater os ingleses e holandeses. Fundaram um pequeno convento nas proximidades de Belém e foram eles os primeiros a visitar e criar missões no “Cabo do Norte” (atual Amapá).

Carmelitas
Em 1626-1627 criaram um convento em Belém, partiram para fundar missões e educaram os filhos dos colonos, bem como, fundaram fazendas.

Jesuítas (inacianos, filhos de Loyola, soldados de Cristo)
Padre Luís Figueira foi à região do rio Xingu em 1636, mas logo foi à Europa e retornou com outros companheiros em 1643 que naufragaram na região do Marajó onde a maioria foi morta pelo povo Aruã. No ano de 1653 chegaram e se estabeleceram os jesuítas João de Souto Mayor, Gaspar Frutuoso e em seguida o padre Antônio Vieira. Destaca-se que não foram bem recebidos pelos moradores de Belém, pois os inacianos intervinham na política sobre os indígenas.

Ordem das Mercês (Mercedários)
Instalou-se em Belém no ano de 1640 sob a liderança do frei Pedro de la Rua de Santa Maria. No Pará criaram escolas para educação dos filhos dos colonos. Chama atenção que eles não eram portugueses, mas espanhóis. Fundaram o convento de Nossa Senhora das Mercês e eram observados com desconfiança pelos portugueses.

Capuchos da Piedade
Chegaram em novembro do ano 1693 na cidade de Belém.

Conceição da Beira e Minho
Chegaram em 1706 e também fundaram várias missões.

Portanto, foram apresentadas as ordens missionárias que atuaram na Amazônia colonial desde o século XVII até o XVIII. Percebeu-se que estiveram de acordo com o projeto português de colonização, pois foram úteis ao governo. Recebiam orientações das autoridades portuguesas e muitas vezes essas ordens disputavam entre si os territórios onde iam fazer as missões.
Abaixo tem um mapa das missões religiosas no Estado do Maranhão e Grão-Pará na primeira metade do século XVIII, ou seja, após a divisão entre as ordens em 1693. É possível perceber que elas foram implantadas em lugares estratégicos, ou seja, nas margens dos rios mais férteis e navegáveis no litoral entre as cidades de São Luís e Belém. Segundo Bombardi (2014), elas eram bases para expedições contra indígenas inimigos e defesa contra o avanço de estrangeiros que desejam fazer comércio com os ameríndios. Com o domínio sobre os indígenas Portugal garantia a posse e defesa do território.



Mapa 1 – Expansão da atividade missionária no Estado do Maranhão e Grão-Pará (1730)


Fonte: BOMBARDI (2014, p. 40).

Referências

BOMBARDI, Fernanda Aires. Pelos interstícios do olhar do colonizador: descimentos dos índios no Estado do Maranhão e Grão-Pará (1680-1750). 2014. 187 f. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade de São Paulo. São Paulo, 2014.

CARVALHO JÚNIOR, Almir Diniz de. Índios cristãos: poder, magia e religião na Amazônia colonial. Curitiba: CRV, 2017.

NASCIMENTO, Bruno Rafael Machado. Ad majorem Dei gloriam: missões jesuíticas setecentistas no Oiapoque e os usos de documentos históricos para ensino de História no Amapá. Rio de Janeiro: Autografia, 2018.

REZENDE, Tadeu Valdir de. A conquista e a ocupação da Amazônia brasileira no período colonial: a definição das fronteiras. 2006. 353 f. Tese (Doutorado em História) – Universidade de São Paulo. São Paulo, 2006.

 


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