Talvez
a maior contribuição dos gregos antigos para a civilização ocidental foi o
surgimento da filosofia. A palavra Filosofia adquiriu vários sentidos, como por
exemplo, visão de mundo e sabedoria ou experiência de vida. Quando falo de
Filosofia refiro-me no esforço racional do homem para conhecer a realidade a
partir de múltiplas perspectivas, ou seja, busca compreender os princípios, as
causas e as condições das diversas questões humanas como, por exemplo, as
religiões, valores éticos, políticos e até do próprio conhecimento que se
pretende racional.
O nascimento da
Filosofia
Antes
precisa-se explicar o significado da palavra. Segundo Marilena Chauí (2010)
Filosofia é composta por duas palavras gregas philo e sophía. Philo que quer dizer “aquele ou aquela
que tem um sentimento amigável”, pois deriva de philia, que significa “amizade e amor fraterno”. Sophía que dizer “sabedoria”. Filosofia
significa, portanto, “amizade pela sabedoria”, “amor e respeito pelo saber”.
Segundo
os historiadores a filosofia nasceu no fim do século VII a.c e início do século
VI a.c, nas colônias gregas da Ásia menor, na cidade de Mileto. E o primeiro
filósofo foi Tales de Mileto.
Não
quero entrar no mérito da questão sobre o nascimento da Filosofia ser na Grécia
ou no oriente, pois parece ser um debate acalorado. Pode-se dizer que a
Filosofia sofreu influência da sabedoria dos povos orientais.
A Filosofia é filha
da pólis grega
Como
sabemos a primeira forma de tentar explicar a realidade foi o mito. E a
Filosofia não rompe bruscamente com os mitos, pois este processo foi lento e
gradual. Segundo Jean Pierre Vernat, em As
origens do pensamento grego, esse pensamento racional chamado por Pitágoras
de Filosofia foi propiciado pelas formas de organização social, política e
econômica da cidade-estado; assim, pode-se afirmar que a filosofia é filha da
pólis grega.
O aparecimento da
polis constitui, na história do pensamento grego, um acontecimento decisivo.
Certamente, no plano intelectual como no domínio das instituições, só no fim
alcançará todas as suas consequências; a pólis conhecerá etapas múltiplas e
formas variadas. Entretanto, desde o seu advento, que se pode situar entre os
séculos VIII e VII, marca um começo, uma verdadeira invenção; por ela a vida
social e as relações entre os homens tomam uma forma nova, cuja originalidade
será plenamente sentida pelos gregos (VERNANT, 1998, p. 41).
Com
o advento da democracia, especialmente, em Atenas a palavra humana não mais a
divina passa a ser valorizada. Na Ágora (praça) aconteciam os debates
valorizando a argumentação, contestação, discussão e polêmica pelos cidadãos. E
isto foi fundamental para o desenvolvimento da filosofia. Além desse aspecto
político outras condições que pode-se citar são: as viagens marítimas
(permitiram verificar os mitos), invenção da moeda (capacidade de abstração),
invenção do calendário, surgimento da vida urbana, a invenção da escrita
alfabética.
Segundo
a professora Marilena Chauí (2010) a filosofia grega é dividida nos seguintes
períodos:
·
Período
pré-socrático (Século VII ao fim do século V a.c)
·
Período
socrático (Fim do século V a todo o século IV a.c)
·
Período
sistemático (Fim do século IV ao fim do século III a.c)
·
Período
helenístico ou greco-romano (Fim do século III a.c ao VI d.c)
Período
pré-socrático
Os pré-socráticos |
O primeiro período do pensamento
grego toma a denominação substancial de período naturalista, porque a nascente
especulação dos filósofos é instintivamente voltada para o mundo exterior,
julgando-se encontrar aí também o princípio unitário de todas as coisas; e
toma, outrossim, a denominação cronológica de período pré-socrático, porque
precede Sócrates e os sofistas, que marcam uma mudança e um desenvolvimento e,
por conseguinte, o começo de um novo período na história do pensamento grego.
Vejamos alguns filósofos pré-socráticos:
Tales de Mileto
(624-548 A.C.) "Água"
Tales de Mileto, fenício de origem, é considerado o
fundador da escola jônica. É o mais antigo filósofo grego. Tales não deixou
nada escrito mas sabemos que ele ensinava ser a água a substância única de
todas as coisas. A terra era concebida como um disco boiando sobre a água, no
oceano. Cultivou também as matemáticas e a astronomia, predizendo, pela
primeira vez, entre os gregos, os eclipses do sol e da lua. No plano da
astronomia, fez estudos sobre solstícios a fim de elaborar um calendário, e
examinou o movimento dos astros para orientar a navegação. Provavelmente nada
escreveu. Por isso, do seu pensamento só restam interpretações formuladas por
outros filósofos que lhe atribuíram uma idéia básica: a de que tudo se origina
da água. Segundo Tales, a água, ao se resfriar, torna-se densa e dá origem à
terra; ao se aquecer transforma-se em vapor e ar, que retornam como chuva
quando novamente esfriados. Desse ciclo de seu movimento (vapor, chuva, rio,
mar, terra) nascem as diversas formas de vida, vegetal e animal. A cosmologia
de Tales pode ser resumida nas seguintes proposições: A terra flutua sobre a
água; A água é a causa material de todas as coisas. Todas as coisas estão
cheias de deuses. O imã possui vida, pois atrai o ferro.
Segundo Aristóteles sobre a teoria de Tales:
elemento estático e elemento dinâmico. Elemento Estático - a flutuação sobre a
água. Elemento Dinâmico - a geração e nutrição de todas as coisas pela água.
Tales acreditava em uma "alma do mundo", havia um espírito
divino que formava todas as coisas da água. Tales sustentava ser a água a
substância de todas as coisas.
Anaximandro de Mileto (611-547
A.C.) "Ápeiron"
Anaximandro de Mileto, geógrafo, matemático,
astrônomo e político, discípulo e sucessor de Tales e autor de um tratado Da
Natureza, põe como princípio universal uma substância indefinida, o ápeiron
(ilimitado), isto é, quantitativamente infinita e qualitativamente indeterminada.
Deste ápeiron (ilimitado) primitivo, dotado de vida e imortalidade, por um
processo de separação ou "segregação" derivam os diferentes corpos.
Supõe também a geração espontânea dos seres vivos e a transformação dos peixes
em homens. Anaximandro imagina a terra como um disco suspenso no ar. Eterno, o
ápeiron está em constante movimento, e disto resulta uma série de pares opostos
- água e fogo, frio e calor, etc. - que constituem o mundo. O ápeiron é assim
algo abstrato, que não se fixa diretamente em nenhum elemento palpável da
natureza. Com essa concepção, Anaximandro prossegue na mesma via de Tales,
porém dando um passo a mais na direção da independência do
"princípio" em relação às coisas particulares. Para ele, o princípio
da "physis" (natureza) é o ápeiron (ilimitado). Atribui-se a
Anaximandro a confecção de um mapa do mundo habitado, a introdução na Grécia do
uso do gnômon (relógio de sol) e a medição das distâncias entre as estrelas e o
cálculo de sua magnitude (é o iniciador da astronomia grega). Ampliando a visão
de Tales, foi o primeiro a formular o conceito de uma lei universal presidindo
o processo cósmico total. Diz-se também, que preveniu o povo de Esparta de um
terremoto. Anaximandro julga que o elemento primordial seria o indeterminado (ápeiron),
infinito e em movimento perpétuo.
Fragmentos
"Imortal...e imperecível (o ilimitado enquanto
o divino) - Aristóteles, Física". Esta (a natureza do ilimitado, ele diz
que) é sem idade e sem velhice. Hipólito, Refutação.
Anaxímenes de Mileto (588-524 A.C.)
"Ar"
Segundo Anaxímenes, a arkhé (comando) que comanda o
mundo é o ar, um elemento não tão abstrato como o ápeiron, nem palpável demais
como a água. Tudo provém do ar, através de seus movimentos: o ar é respiração e
é vida; o fogo é o ar rarefeito; a água, a terra, a pedra são formas cada vez
mais condensadas do ar. As diversas coisas que existem, mesmo apresentando
qualidades diferentes entre si, reduzem-se a variações quantitativas (mais
raro, mais denso) desse único elemento. Atribuindo vida à matéria e
identificando a divindade com o elemento primitivo gerador dos seres, os
antigos jônios professavam o hilozoísmo e o panteísmo naturalista. Dedicou-se
especialmente à meteorologia. Foi o primeiro a afirmar que a Lua recebe sua luz
do Sol. Anaxímenes julga que o elemento primordial das coisas é o ar.
Fragmentos
"O contraído e condensado da
matéria ele diz que é frio, e o ralo e o frouxo (é assim que ele expressa) é
quente". (Plutarco).
"Com nossa alma, que é ar, soberanamente nos mantém unidos, assim também
todo o cosmo sopro.
Parmênides
(515 – 445 a.C.)
Parmênides acreditava que tudo o que existe sempre
existiu. Sendo que nada pode surgir do nada e nada que existe pode se
transformar em nada. Ele considerava totalmente impossível qualquer
transformação real das coisas. Nada pode se transformar em algo diferente do
que já é.
A partir da premissa de que algo existe – É –,
Parmênides deduziu que esse algo não pode também não existir – NÃO É -, pois
isso envolveria uma contradição lógica. Portanto, seria impossível existir um
estado do nada- NÃO HAVERIA UM VAZIO. Assim, algo não pode vir do nada: deve
sempre ter existido em alguma forma.
É claro que Parmênides sabia que das constantes
transformações que ocorrem na natureza. Mas ele não conseguia harmonizar isto
com aquilo que sua razão lhe dizia. E quando era forçado a decidir se
confiava nos sentidos ou na razão, decidia-se pela razão.
Todos nós conhecemos a frase: “Só acredito vendo”.
Mas Parmênides não acreditava nem quando via. Ele dizia que os sentidos nos
fornecem uma visão enganosa do mundo; uma visão que não está em conformidade
com o que nos diz a razão.
Heráclito (535 – 475 a.C.)
“Tudo flui”,
dizia Heráclito. Tudo está em movimento e nada dura para sempre. Por esta
razão, “não podemos entrar duas vezes no mesmo rio”. Isto porque quando entro
pela segunda vez no rio, tanto eu quanto o rio já mudamos.
Heráclito entendia o mundo governado por um logos
divino. Às vezes interpretado como “razão” ou “argumento”, considerava o logos
uma lei universal, cósmica, de acordo com a qual todas as coisas começam a
existir e todos os elementos materiais de universo são mantidos em equilíbrio.
Heráclito também nos chama a atenção para o fato de
que o mundo está impregnado por constante opostos – dia e noite, quente e frio,
por exemplo. Se nunca ficássemos doentes, não saberíamos o que significa saúde.
Tanto o bem quanto o mal são necessário ao todo,
dizia Heráclito. Sem a constante interação dos opostos o mundo deixaria de
existir.
Empédocles (490 – 430 a.C.)
Empédocles acreditava que a natureza possuía ao
todo quatro elementos básicos, também chamados “raízes”. Estes quatro elementos
era a terra, o ar, o fogo e a água.
Todas as transformações da natureza seriam
resultado da combinação desses quatro elementos, que, depois, novamente se
separavam um do outro. Pois tudo consiste em terra, ar, fogo e água, só que em
diferentes proporções de mistura.
Esses elementos seriam movidos e misturados de
diferentes maneiras em função de dois princípios universais opostos:
Amor: responsável pela força de
atração e união e pelos movimentos de crescente harmonização das coisas;
Ódio: responsável pela força de
repulsão e desagregação e pelo movimento de decadência, dissolução e separação
das coisas.
Anaxágoras (500 – 428 a.C.)
Anaxágoras achava que a natureza era composta por
uma infinidade de partículas minúsculas, invisíveis a olho nu. Tudo pode ser
dividido em partes ainda menores, mas mesmo na menor das partes existe um pouco
de tudo.
Anaxágoras também imaginou um tipo de força que
seria responsável, por assim dizer, pela ordem e pela criação de homens,
animais, flores e árvores. A esta força ele deu o nome de inteligência.
Demócrito (460 – 370 a.C.)
Afirmou que todas as coisas eram constituídas por
uma infinidade de pedrinhas minúsculas, invisíveis, cada uma delas sendo eterna
e imutável. A estas unidades mínimas Demócrito Deu o nome de átomos. A
palavra átomo significa “indivisível”.
Além disso, as “pedrinhas” constituintes da
natureza tinham que ser eternas, pois nada pode surgir do nada. Sendo que essas
“pedrinhas”, segundo Demócrito, possuíam formatos diferentes: alguns
arredondados e lisos outros irregulares e retorcidos. E por suas formas serem
tão irregulares é que eles podiam ser combinados para dar origem aos mais
variados corpos.
Demócrito acreditava que a alma era composta por
alguns átomos particularmente arredondados e lisos, os “átomos da alma”. Quando
uma pessoa morre, os átomos de sua alma espalham-se para todas as direções e
podem agregar a outra alma, no mesmo momento em que é formada.
Veremos
de forma mais que resumida os três principais filósofos gregos e que mais
influenciaram o pensamento ocidental seja na arte, ética, política e na religião.
Foram Sócrates, Platão e Aristóteles.
Sócrates (470-399
a.c)
Sócrates |
Sócrates
foi um filósofo que se preocupou com as questões antropológicas, ou seja, o
centro de suas reflexões foi o homem em seus diversos aspectos. Ele não
escreveu nada e o que se sabe sobre ele, deve-se aos escritos do seu discípulo
Platão. Sócrates era de origem humilde, andava pelas praças, mercados,
assembleias questionando seus interlocutores sobre o que é a coragem? O que é a
beleza? Ele fazia essas perguntas para mostrar aos seus contemporâneos que eles
nunca haviam refletido sobre os valores que diziam verdadeiros. Quando
perguntavam a ele sempre respondia que não sabia e por isso perguntava. Donde
surge a famosa expressão atribuída a ele quando respondeu a pergunta da sibila
no templo de Apolo: “Só sei que nada sei”.
Para
ele a consciência da ignorância era o início da filosofia. Procurava a
definição, ou seja, a essência de uma ideia, por exemplo. E pensar é sempre um
risco. Risco para quem pensa e também para os poderosos que historicamente não
querem que os subalternos pensem. Por isso se você não gosta de pensar não
estude filosofia. Os poderosos de Atenas acusaram nosso filósofo de corromper a
juventude, desrespeitar os deuses e violar as leis.
Sócrates
foi levado ao julgamento e foi condenado ao envenenamento. Se você deseja
conhecer o julgamento e morte de Sócrates leia a obra de Platão com o título de
Apologia de Sócrates.
Platão (427-347
a.c)
Platão |
Platão
foi discípulo de Sócrates e escreveu vários textos entre os mais conhecidos
temos A República e o Banquete. Para um aprofundamento das
suas ideias aconselho ler estas e outras obras do filósofo que fundou a
Academia em Atenas. Platão acreditava que os fenômenos eram transitórios e
passageiros. Que a realidade era uma cópia imperfeita das suais ideias
presentes no mundo das ideias. Platão também ficou conhecido pelo famoso mito da caverna descrito no livro A república. Nesta metáfora enfatiza a
importância do filósofo como aquele que liberta as pessoas da mera aparência e
as traz à luz da verdade. O instrumento para a libertação das pessoas que
contemplam apenas as sombras da realidade é a filosofia.
Aristóteles
(384-322 a.c)
Aristóteles |
Ao
contrário de Platão Aristóteles buscou compreender a realidade não a partir do
mundo das ideias, mas a partir da própria realidade. Ele sempre valorizou o
equilíbrio do ser. Deve-se a ele o desenvolvimento da lógica, ciência e da
ética.
Por professor Bruno Rafael
Referências
CHAUI, Marilena. Iniciação à Filosofia: ensino médio, volume único. São Paulo: Ática, 2010.
VERNANT, Jean Pierre. As origens do pensamento grego.10.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
www.mundodosfilosofos.com.br