Prof. Me. Bruno Rafael Machado Nascimento
Os ingleses, irlandeses e holandeses
a partir de 1600 no delta amazônico implantaram várias feitorias e
fortificações para principalmente comercializarem com as populações indígenas.
A região que corresponde ao atual Estado do Amapá era conhecida como “Cabo do
Norte” e mesmo antes dos portugueses se estabeleceram as outras nações
europeias já realizavam contatos com os povos originários. Levaram da região madeiras, peixes-boi, gomas,
urucum, cacau que eram revendidos no mercado europeu, mas com o decorrer do
tempo eles resolveram com o apoio do trabalho indígena cultivar tabaco e cana
em pequenos assentamentos.
Na região do
atual Amapá na primeira metade do século XVII o comércio holandês com os ameríndios foi tão intenso
que os europeus criaram uma pequena companhia chamada de Guiaansche Compagnie que fretou navios para comercializar na
região, principalmente no Suriname. Veja o que afirma o historiador Lodewijk
Hulsman (2016, p. 41): “os navios holandeses abasteciam as feitorias dos
ingleses e irlandeses na banda ocidental e transportavam para Europa”. Além
disso, enchiam seus navios com produtos da Amazônia o que geravam bastantes
lucros.
Inicialmente, implantaram feitorias (espécie de armazéns fortificados eram levantadas próxima
às moradias dos nativos), pois pagavam para eles construírem casas e limpar as
roças), mas depois evoluiu para pequenas plantações de tabaco, algodão e
urucum. Para tanto, utilizavam o trabalho indígena negociado por meio do escambo em que os batavos ofertavam mercadorias
manufaturadas, por exemplo, machados, contas de
vidro, tesouras, facões, armas e em troca os ameríndios trabalhavam com os
europeus. Esse
comércio foi importante e lucrativo, pois a relação com os indígenas era
considerada amigável, o que exigia poucos gastos com armamento, fortalezas e
soldados gerando bons lucros (HULSMAN, 2011). Os produtos levados do Cabo Norte
para Europa eram bastante valorizados na Europa, principalmente as madeiras e o
tabaco. Fato interessante foi que para facilitar o comércio com os indígenas,
os holandeses levaram indígenas para aprender a sua
língua e depois retornavam e exerciam a função de intermediários.
Acompanhamos o
que Barão do Rio Branco afirma sobre a presença holandesa no “Amapá”: “por
volta de 1610, os holandeses possuíam feitorias e postos fortificados na região
dos Tucujus, entre o Jari e o Macapá, na margem setentrional do Amazonas” (RIO
BRANCO, 2012, p. 107). Isso significa que esses europeus estabeleceram vários
pontos comerciais e militares neste território com o objetivo de explorar
comercialmente. Nas fortificações, por meio do trabalho do indígena criaram-se
vários assentamentos onde se plantava e exportava para Europa. Um forte
holandês conhecido dos estudiosos estava localizado próximo a foz do rio
Araguari, entre os rios Mayacaré ou Maricary e o Cassiporé, ou seja, o forte de
Mayacaré. Possivelmente construído por volta de 1633 e conquistado pelo
governador do Pará, Sebastião de Lucena de Azevedo, em 1646 que os holandeses
foram expulsos das “terras do Cabo Norte”. Vejamos o que diz o historiador
Alírio Cardoso sobre o estilo de construções desses pequenos fortes na
Amazônia: “eram de taipa de pilão reforçada com madeira de lei e algumas poucas
pedras, a mesma técnica utilizada na maioria das construções portuguesas na
Amazônia seiscentista que contou sempre com larga utilização do trabalho
indígena” (CARDOSO, 2015, p. 47). Abaixo se tem um mapa holandês do século
XVIII que mostra o “Amapá” e principalmente onde estava localizado o acidente
geográfico “Cabo Norte” (Kaap Nord):
Portanto,
os holandeses criaram pequenos fortes no Cabo Norte (atual Amapá) durante o
século XVII com o objetivo não apenas militar, mas principalmente comercial. Os
indígenas foram fundamentais, pois sem eles a colonização europeia era
impossível de acontecer. Por meio do escambo ocorreram as negociações em que os
ameríndios extraíam e plantavam vários produtos que foram vendidos na Europa.
Além disso, as alianças com as populações nativas foram fundamentais também na
defesa dos fortes e nas lutas contra os portugueses. Todos os europeus buscavam
essas alianças para obter alguma chance de vitória, pois os ameríndios
conheciam a região e usavam as táticas de guerra mais apropriadas para
realidade amazônica.
Referências
CARDOSO,
Alírio. Canoa e arcabuz: a guerra hispano-holandesa na Amazônia (1621-1644).
In: CARDOSO, Alírio, BASTOS, Carlos; NOGUEIRA, Shirley (org.). História militar da Amazônia: guerra e
sociedade (séculos XVII-XIX). Curitiba: Editora CRV, 2015. p. 33-56.
HULSMAN,
Lodewijk. Swaerooch: o comércio holandês com índios no Amapá (1600-1615). Revista Estudos Amazônicos, Belém, v.
6, n. 1, p. 178-202. 2011.
HULSMAN,
Lodewijk. Escambo e tabaco: o comércio dos holandeses com índios no delta do
rio Amazonas (1600-1630). In: CHAMBOULEYRON, Rafael; SOUZA JUNIOR, José Alves
(Org.). Novos olhares sobre a Amazônia
colonial. Paka-Tatu: Belém, 2016. p. 39-59.
RIO
BRANCO, Barão do. Obras do barão do Rio
Branco III: questões de limites Guiana Francesa primeira memória. Brasília:
Fundação Alexandre de Gusmão, 2012.
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