História
e culturas indígenas
Como bem sabemos antes dos
europeus chegarem com suas caravelas habitavam este território chamado,
atualmente, de Brasil diversos povos indígenas. Estima-se que quando Pedro
Alvares Cabral desembarca com sua frota havia entre 3 e 5 milhões de índios e
mais de 1000 línguas diferentes faladas pelos nativos, bem como algo em torno
de 1500 povos. Como bem sabemos o termo “índio” foi dado pelos europeus e fruto
de um erro geográfico, ou seja, quando Colombo chega em 1492 neste continente
acredita que está nas Índias e chama os habitantes de “índios”.
Ao longo da história do
Brasil percebemos o quanto os povos indígenas foram maltratados, dizimados e
explorados fruto de um processo de colonização cruel implantado pelo
colonizador (europeu). Para tanto se utilizaram de diversas justificativas como
o “índio” é selvagem, canibal, sem cultura, preguiçoso, sem natureza humana,
sem alma e sem civilização. O europeu colocou-se numa posição de superioridade,
como se existisse cultura superior a outra. Bem sabemos que não existe cultura superior, mas culturas diferentes.
Infelizmente essa ideia
dos índios serem inferiores chegou até nós. É comum ouvirmos diversas ideias
preconceituosas e que levam à discriminação dos povos indígenas em nossa
sociedade ( na família, escola, livros, meios de comunicação). Tudo isso fruto
de um total desconhecimento e ignorância por parte de cada um de nós. No
entanto, depois de muita luta do movimento indígena em 2008 foi sancionada a lei 11645 que obriga nos currículos
escolares a implantação do ensino da História e culturas indígenas
preferencialmente nas disciplinas de História, Literatura e Educação artística
na tentativa de acabar com tanto preconceito contra esses povos.
Portanto, cabe-nos a
seguinte pergunta: o que aconteceu para
a dizimação dos povos nativos? É isso que tentaremos responder.
Atualmente, segundo
dados do último censo do IBGE em 2010 são cerca de 900 mil índios distribuídos
em 220 etnias que falam 180 línguas diferentes. Isso nos mostra a grande diversidade
cultural desses povos e ao contrário do que muitas pessoas imaginam os nativos
estão aumentando.
A
diversidade cultural
Nessas poucas imagens
já podemos observar que ao contrário do que se pensa ou o que foi ensinado na
escola os povos indígenas não são todos iguais: não se vestem do mesmo jeito,
não possuem as mesmas crenças, não pensam da mesma forma, não fazem da mesma
maneira suas casas, não falam a mesma língua. Será que todos os índios chamam
suas casas de oka como nos ensinaram?
Meu querido sei
que você é inteligente e já percebeu que os índios são bem diferentes uns dos
outros! Surpresa! Muito legal essa descoberta que fizemos! E agora? É hora de
acabarmos com o preconceito e a discriminação que sofrem esses povos! Vai ficar
de braços cruzados? Ou vai fazer alguma coisa? Com certeza você já ouviu ou vai
ouvir algum tipo de preconceito. Agora você vai combater essa ideia de
exclusão!
Com certeza você não
vai mais cair naquela imagem errada de que índio é andar quase nu, com um monte
de pena na cabeça, com o corpo pintado e com arco e flecha. Atualmente muitas
culturas indígenas vestem-se como os não-índios, muitos são pesquisadores,
intelectuais, escritores, artistas, professores e nem por isso deixaram de ser
índios.
Professores indígenas |
A nossa atitude de
cidadãos conscientes é respeitar aqueles que são diferentes de nós.
Infelizmente somos levados a querer nos julgar superiores, melhores ou
“civilizados”. Principalmente em relação aos povos indígenas é um dever nosso
não exaltá-los, mas respeitá-los. E aí?
Você que se julga “civilizado” qual vai ser a sua atitude a partir de agora?
O
encontro entre as culturas: indígenas e europeia
Os europeus ao
instalarem-se nessas terras perceberam logo que deveriam adaptar-se ao ambiente
para sobreviverem. Nisso contaram com a ajuda dos índios que lhes foram muito
úteis, pois conheciam as florestas, alimentos, caminhos e rios. Os europeus
impressionaram-se com a mandioca que era utilizada pelos nativos na alimentação
( a farinha que tanto consumimos). Logo os colonizadores aprenderam a lidar com
o amendoim e a pimenta que foram utilizados na alimentação pelas mulheres
europeias. Também incorporaram em sua alimentação o caju, maracujá, abacaxi e
banana frutas que os índios utilizavam. O tabaco indígena que era utilizado
para curar certas feridas em homens e animais como as “bicheiras” foi utilizado
como fumo pelos índios e colonos.
Muitos animais foram
utilizados pelos europeus em sua alimentação como: veados, antas, tatus, pacas,
cotias, aves.
Aprendendo
com os índios e a exploração do trabalho indígena
Graças à colaboração
indígena que a colonização obteve sucesso, pois inicialmente os europeus não
conheciam as terras e foram os índios com seus conhecimentos da natureza que os
ajudaram. Foi com eles que os europeus aprenderam a caçar, pescar, andar nos
rios e matas brasileiras e a lidar com os animais ferozes e insetos que
destruíam as plantações.
Só que os portugueses
não queriam apenas viver aqui, mais principalmente explorar a natureza para
obter riquezas. Por isso aproveitaram-se dos nativos para explorá-los através
do escambo.
Com a implantação das
capitanias hereditárias a partir de 1534 a mão de obra indígena foi utilizada
com maior intensidade devido a implantação do cultivo de cana de açúcar nos
canaviais e engenhos, logo os índios
foram escravizados. Ao serem escravizados e levados para os canaviais e
engenhos não suportavam o trabalho e fugiam, pois não era da sua cultura trabalharem na agricultura essa tarefa
cabia às mulheres( os europeus não perceberam isso) pelo menos os índios do
litoral nordestino.
As leis na colônia uma
ora permitiam a escravidão indígena outra ora proibia. Até 1680 de maneira
geral eram permitidas a escravidão por meio de guerras justas, ou seja, invasão armada em terras indígenas com o
objetivo de capturar indígenas. A guerra só podia ser realizada contra aqueles
que atacassem os portugueses ou que impedissem a circulação de missionários e a
pregação do Evangelho.
Também
poderiam ser escravizados por meio do resgate que eram expedições que
negociavam com povos aliados em troca de inimigos capturados em guerras
inter-tribais.
Outra forma era o
resgate dos chamados índios de corda que
eram prisioneiros de uma tribo que se encontravam presos e armados e que
estavam destinados a serem comidos.
Havia também os descimentos que eram expedições,
inicialmente, não militares realizadas tradicionalmente por missionários com o
objetivo de persuadir comunidades indígenas para “descer” de suas aldeias para
os aldeamentos dos missionários. Nos aldeamentos eram explorados pelos
religiosos e convertidos ao cristianismo perdendo a sua cultura. Dessa maneira
a partir de 1656 os missionários passaram a controlar a mão de obra indígenas o
que gerou conflitos com os colonos que queriam a todo custo escravizá-los para
trabalhar na cana de açúcar.
No entanto a partir de
1686 com o regimento das missões que
deu poder aos missionários sobre os indígenas a escravidão foi proibida, não
que eles não fossem obrigados a trabalhar e que na prática a escravidão
acontecia. Porém, isso é conversa para os próximos capítulos da História e no
decorrer das séries espero que seus professores trabalhem isso com vocês, mesmo
tendo quase que certeza que não falaram disso.
As razões que levaram os portugueses a adotarem com maior intensidade a
escravidão africana em vez da indígena: resistência
indígena, doenças, o lucrativo tráfico negreiro e a resistência dos religiosos
( principalmente os jesuítas). Isso desmente a ideia preconceituosa de que
foi adotada a escravidão africana porque os índios eram preguiçosos.
Resistência
indígena
Luta contra o colonizador |
Meu querido será
que os índios não resistiam à dominação? Claro que sim. Através de alianças
entre nações indígenas contra os europeus ou em alianças com os portugueses
contra os holandeses; saques e invasões aos engenhos, guerras contra os
europeus, fugas.
As principais guerras
indígenas foram: a confederação dos tamoios, a guerra dos bárbaros, a revolta
de Ajuricaba e o conflito dos jesuítas dos trinta povos das missões. Essas
guerras ficam de pesquisas para você se aprofundar no tema. O certo é que os
nativos lutaram muito por sua liberdade. E você não lutaria? Aceitaria ser
escravizado?
Costumes
indígenas
Os povos indígenas
viviam em aldeias e praticavam a agricultura, caçavam, pescavam, coletavam para
sobreviver. Essas aldeias podiam mudar de local em busca de melhores condições
de vida, logo entre os nativos havia bastante mobilidade e poucos bens que
deveriam ser levados de um lugar para o outro.
Os tupis-guranis
cultivavam a mandioca, bem como o milho, feijão e batata-doce. Alguns plantavam
abóbora, abacaxi, algodão e tabaco. Aos homens cabia a pesca, caça, o roçado, a
produção de canoas; às mulheres cabiam a plantação, colheita, preparo do
alimento, fiavam, teciam, faziam cestos e muito mais coisas. Consumiam
praticamente tudo o que produziam e quase não possuíam estoque. Diferentemente
dos europeus o objetivo do seu trabalho não era acumular bens.
O índio só tinha como
propriedade pessoal a sua arma e seus enfeites, o resto era tudo partilhado. Os
europeus não entendiam o modo de vida deles e acabaram julgando-os como
“preguiçosos”, “rebeldes”, “selvagens”. Será que este estilo de vida não tem
muita coisa para nos ensinar? Hoje vivemos numa busca incessante por bens
materiais e que não nos garantem a felicidade. Ainda hoje julgamos o modo de
vida desses povos como fôssemos superiores. Será que somos?
Um costume indígena que
chamava a atenção dos europeus era a nudez. Geralmente seus corpos eram
pintados com algum tipo de resina e usavam penas de diversos animais como
enfeites. As mulheres não furavam os lábios, usavam braceletes e pintavam os
rostos seus enfeites eram mais simples que o dos homens.
Outro costume que
surpreendeu os europeus foram os banhos diários e até mais de uma vez dos
índios. Nas festas indígenas que duravam dias havia muita bebedeira e era comum
conflito entre os nativos.
As mulheres eram
consideradas inferiores aos homens e comumente era o seu pai, tio, irmão que lhe
arranjava o casamento. Para alguns líderes indígenas era permitida a poligamia
e a liberdade sexual.
Ritual
Antropofágico
Os índios possuíam
espírito de guerreiros e as guerras eram comuns entre tribos rivais. Em nome da
vingança conflitos entre grupos
indígenas diferentes eram comuns. Observemos como era o ritual antropofágico:
“Levado
para a aldeia dos captores, o prisioneiro era amarrado de forma ritual pelo seu
dono e percorria a aldeia enquanto todos o ameaçavam e lhe prometiam a morte,
até mesmo escolhendo as partes de seu corpo, desejadas para o banquete.
O
prisioneiro era muito bem tratado, alimentado, engordado e até podia receber uma esposa temporária. Se
por acaso tivessem um filho nesse tempo, a criança seria considerada inimiga e
deveria ser morta e comida como o pai. Quando se aproximava a ocasião festiva
da execução, eram feitos convites às aldeias vizinhas, enquanto às mulheres
preparavam as bebidas.
O
índio escolhido para ser o executor do prisioneiro era pintado com cores vivas
ou untado com gema de ovo, ml ou resina e coberto com penas coloridas. Na
cabeça portavam um cocar de penas. O prisioneiro era enfeitado de forma
semelhante, com o rosto pintado de azul ou verde e levado para o lugar do
sacrifício, no meio da aldeia e diante de todos. Antes esperava-se que
demonstrasse valentia.
Depois
era semi-imobilizado, mas ainda podia fazer algumas negaças para evitar o golpe
do tacape do executor que finalmente esmagava- lhe o crânio. Nesse momento, uma
velha corria com o cabaço na mão para pegar o miolo e não deixar desperdiçar o
sangue, pois tudo seria aproveitado no banquete canibal.
O
corpo do morto era limpo e chamuscado pelas velhas que depois o entregavam para
um velho que o retalhavam, começando por fazer uma abertura no ventre por onde
as crianças lhe tiravam as tripas das quais recebiam pedaços. O corpo era
depois esquartejado e dividido entre os participantes da festa que recebiam,
por vezes, os pedaços previamente escolhidos.
A
carne era colocada sobre uma espécie de jirau onde era moqueada, isto é, assada
e defumada até ficar no ponto desejado. Depois era consumida. A gordura, os
miolos e as tripas eram aproveitados para um mingau destinado às velhas e às
crianças.
A
cabeça era espetada à porta do executor que também recebia os dentes e as
tíbias do morto, mas não a sua carne. Os dentes eram pendurados no colar e as
tíbias serviam para fazer flautas”.( MESGRAVIS, Laima; PINSKY, Carla Bassanezi.
O BRASIL QUE OS EUROPEU ENCONTRARAM: a flora, a fauna, índios, homens brancos,
antropofagia e vida sexual, p. 60-61).
Para os ameríndios esse
ritual servia para acalmar o espírito do morto para que não procurasse vingança
contra seu matador. O ato devorar o prisioneiro tinha por objetivo declarado
vingar os parentes e amigos mortos pelos inimigos e incorporar suas virtudes
guerreiras e sua força espiritual.
A
contribuição das culturas indígenas na formação do povo brasileiro
Infelizmente as pessoas
pensam que os ameríndios não contribuíram em nada na formação da cultura
nacional. Grande engano, pois aprendemos com os nativos muitos valores.
Segundo o folclore brasileiro, existia a lenda do
curupira (ser habitante das florestas brasileiras), cuja principal atribuição
seria proteger animais e plantas. Sempre recorrente nas lendas, o curupira
tinha os pés com calcanhares para frente para confundir os caçadores. Conforme
o historiador Sérgio Buarque de Holanda, o curupira não existiu, mas os
indígenas tinham o hábito de andar para trás, para confundir os europeus e
bandeirantes.
A vontade de andar descalço foi outro hábito que
herdamos dos indígenas. Geralmente, quando chegamos em casa após um dia inteiro
de trabalho ou estudo, a primeira coisa que fazemos é retirar o calçado e ficar
certo tempo descalços. Muitas pessoas têm o hábito de sempre andar descalças
quando estão em suas casas.
O costume de descansar em redes é outra herança
dos povos indígenas. Quase sempre os índios dormem em redes de palha que se
encontram dentro de suas habitações nas aldeias.
A culinária brasileira herdou vários hábitos e
costumes da cultura indígena, como a utilização da mandioca e seus derivados
(farinha de mandioca, beiju, polvilho), o costume de se alimentar com peixes,
carne socada no pilão de madeira (conhecida como paçoca) e pratos derivados da
caça (como picadinho de jacaré e pato ao tucupi), além do costume de comer frutas
(principalmente o cupuaçu, bacuri, graviola, caju, açaí e o buriti).
Além da influência indígena na culinária
brasileira, herdamos também a crença nas práticas populares de cura derivadas
das plantas. Por isso sempre se recorre ao pó de guaraná, ao boldo, ao óleo de
copaíba, à catuaba, à semente de sucupira, entre outros, para curar alguma
enfermidade. Quem nunca tomou um chazinho feito por seus avós ou mãe?
A influência cultural indígena na sociedade
brasileira não para por aí: a língua portuguesa brasileira também teve
influência das línguas indígenas. Várias palavras de origem indígena se
encontram em nosso vocabulário cotidiano, como palavras ligadas à flora e à
fauna (como abacaxi, caju, mandioca, tatu) e palavras que são utilizadas como
nomes próprios (como o parque do Ibirapuera, em São Paulo, que significa,
“lugar que já foi mato”, em que “ibira” quer dizer árvore e “puera” tem o
sentido de algo que já foi. O rio Tietê em São Paulo também é um nome indígena
que significa “rio verdadeiro”). Também o nome de várias cidades como Manaus e
Macapá.
Daí a importância de valorizar as culturas
indígenas e não mais discriminá-las. Agora é com você!
Por Professor Bruno Rafael
REFERÊNCIAS
FREIRE, Carlos Augusto da Rocha; OLIVEIRA, João
Pacheco de Oliveira. A presença indígena
na formação do Brasil. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de
Educação continuada, Alfabetização e Diversidade; LACED/ Museu Nacional, 2006.
LUCIANO, Gersem dos Santos. O índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos
indígenas no Brasil de hoje. Brasília:MEC, Secretaria de educação continuada,
Alfabetização e Diversidade; LACED\ Museu Nacional, 2006.
MESGGRAVIS, Laima; PINSKY, Carla Bassanezi. O Brasil que os europeus encontraram: a
natureza, os índios, os homens brancos. São Paulo: Contexto, 2013.