Professor Me. Bruno Rafael Machado Nascimento
Não apenas o domínio militar com a
ocupação e construções de fortificações foram fundamentais, mas também outros
instrumentos foram importantes para a presença portuguesa, a saber: 1) a caça aos indígenas e a exploração das drogas do sertão e 2) as missões religiosas, principalmente sob o
comando dos missionários jesuítas. Pode-se afirmar que a ocupação da
Amazônia deu-se por caminhos militares, religiosos e econômicos. O historiador
Rafael Chambouleyron chama atenção para importância dos militares, religiosos e
sertanistas (que se dedicavam na caça aos indígenas) para assegurar o domínio
português, mas também durante o século XVII os donatários que receberam
capitanias, os lavradores e dos moradores das vilas e cidades que possuíam
outros objetivos (CHAMBOULEYRON, 2006 ).
Na Amazônia colonial os produtos naturais foram chamados de drogas do sertão de onde se extraíam
resinas, cascas, frutos e eram enviados ao porto de Belém e de lá para a
Europa. Pode-se citar como exemplos das drogas:
cacau, urucum, anil, salsa-parrilha, óleo de copaíba, baunilha e casca de
pau-cravo (hoje raro de encontrar e utilizado na culinária e na medicina para
tratar das feridas). As drogas do sertão eram coletadas
principalmente pelos indígenas escravizados ou livres, pois eram eles que
sabiam onde estavam localizadas, eram eles que pilotavam as canoas, conheciam
os rios e igarapés. As viagens até os locais de extração eram longas e o
pagamento para os indígenas livres eram em geral farinha, pano de algodão,
aguardente, chapéu, faca, agulha etc. Essas viagens eram lideradas pelos
“cabos” e os indígenas pescavam e caçavam para si e para eles (RAVENA; MARIN,
p. 395). Todos os agentes coloniais exploraram a mão de obra indígena:
missionários, colonos, autoridades lucraram à custa dessa exploração que
desorganizou a vida das sociedades ameríndias, entretanto os indígenas criaram
táticas para sobreviver diante da escravização e outras formas de controle.
Aprenderam negociar e em muitas ocasiões fizeram seus interesses se
materializarem.
As drogas do sertão
foram utilizadas também no tratamento das doenças (os europeus aprenderam com
os indígenas). Ao viajar pela Amazônia no século XVIII Alexandre Rodrigues
Ferreira escreveu a respeito do óleo da copaíba: “para os vômitos, ainda que
sejam pretos, bebem a semente da cupahiba ralada...” (FERREIRA, 1983, p. 760) e
“para suspenderam as gonorrhéas, bebem o cozimento da raiz do limão azedo,
incorporado com outras de cupaiba” (FERREIRA, 1983, p. 762). Já a baunilha era
utilizada na culinária como ingrediente ao chocolate. O cacau também era
considerado droga do sertão e como o
chocolate começava a cair no gosto dos europeus seu cultivo foi impulsionado
principalmente a partir do século XVIII. Essa droga foi tão importante que foi
utilizada como moeda nas relações econômicas. Veja o relato do padre jesuíta
João Daniel que viveu no século XVIII na Amazônia: “São as terras do Amazonas tão abundantes de cacao, como todos sabem,
pois de lá é que vem para a Europa tanta abundância, e é a carga mais ordinária
das suas frotas.” (DANIEL, 1975, p. 124).
Estes produtos da Amazônia colonial geraram riquezas para os
vários agentes coloniais, bem como, para coroa portuguesa. Exemplo de que eram
considerados valiosos foi o que escreveu o já citado padre jesuíta: “são
muitos, e mui preciosos os bálsamos do Amazonas; e só eles bastavam a fazer mui
rico, e preciosos o seu tesouro...” (DANIEL, 1975, p. 390).
Portanto, a coleta das drogas
do sertão foi um comércio bastante lucrativo para os europeus, mas foi
realizado a partir do trabalho escravo ou livre dos indígenas. Isso demonstra que
sem a presença dos ameríndios com seus conhecimentos e força de trabalho seria
impossível no século XVII o comércio desses produtos, bem como, a própria
colonização. Os maiores beneficiados foram os colonos comerciantes e
principalmente os missionários que controlavam grande parte dos indígenas.
Aprofundamento
Na Amazônia colonial a palavra sertão significava o interior
do território, distante de onde viviam os portugueses, lugar de escravização de
indígenas, lugar de conversão dos indígenas, lugar onde se coletava as drogas
do sertão (CHAMBOULEYRON; BONIFÁCIO; MELO, 2010).
Referências
CHAMBOULEYRON, Rafael.
Plantações, sesmarias e vilas. Uma reflexão sobre a ocupação da Amazônia
seiscentista. Nuevo Mundo Mundos Nuevos, v. 6, p. 1-10, 2006.
CHAMBOULEYRON; BONIFÁCIO;
MELO. Pelos sertões “estão todas as utilidades”. Trocas e conflitos no sertão
amazônico (século XVII). Revista
História, São Paulo, n. 162, p. 13-49. 2010.
DANIEL, João. Tesouro descoberto no rio Amazonas. Rio
de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1976.
RAVENA, Nirvia; MARIN,
Rosa Acevedo. A teia de relações entre índios e missionários. Varia História, Belo Horizonte, v. 29,
n. 50, p. 395-420, mai/ago, 2013.